Poemas : 

Biver: ver duas vezes

 
Disperso a atenção, separado
na dispersão.
Atrás desta visão, vendado
Páro atento a nada.

Ajo então, como se não
A ver tudo do fundo.
Todo o acto é vão, nesta posição
De observador do mundo.

Reparo que sim, estou em mim
A reparar que sim.
Saro-me assim, infectado
De mim curado.

Doença sem cura, que cura
e se arrasta em duração.
A crença segura, que já não dura
Alastra-me em difusão.

O corpo sente, a mente mente
E sente a mentira.
Um outro dentro, com outro ao centro
Sente o que ela vira.

Longe do que sinto, num labirinto
Pinto sensações.
Mas aquilo que sei, que criei
Nunca foram ilusões.

Sou meu próprio intruso, alheio
Alienado de tudo.
Ali ao lado, e no meio
Iludo-me confuso.

Olho-me nos olhos, molhados
Que me olham a ser.
Escolho-me a sorte, os sonhos sonhados
E o que viver.

Vejo, vejo que vejo
Mas desejo não saber.



José Roque

 
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JoseRoque
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 24/11/2009 15:26  Atualizado: 24/11/2009 15:26
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 Re: Biver: ver duas vezes
Um belo exercício de contorcionismo, heim? Gostei de ler. Bjs

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 14/09/2011 13:21  Atualizado: 14/09/2011 13:21
Membro de honra
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 Re: Biver: ver duas vezes
vim aqui outra vez. excelente miúdo

Enviado por Tópico
Yan_Booss
Publicado: 14/09/2011 13:58  Atualizado: 14/09/2011 13:58
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 Re: Biver: ver duas vezes
sem dúvida; já que pondo aqui os versos em constante revisão, nos dá o poeta nesta escrita uma visão clara do que é valorizar a palavra. (feito o repique obtendo as melhores mudas). bom de ler, e um exercício ao se interpretar.

Yan