(continuação)
Olhei para as mãos da mulher, tentando fotografar suas unhas, e o que eu vi deixou-me preocupado: as unhas não eram longas, mas, também, não eram tão curtas para que, no meu modo de pensar, pudessem evitar um acidente. Transtornado, ouvi, em silêncio, o que jamais gostaria de ter escutado.
- Francisco, agora eu vou examinar a sua próstata e o único caminho para chegar nela é o seu ânus. Vou ter que penetra-lo, mas se você colaborar, seguindo todas as instruções, o exame será rápido e indolor, preste atenção: Relaxe, fique de frente para a maca a uma distância de 1,50m, aproximadamente, abra as pernas, apóie as mãos na maca, não se mexa e não olhe para trás.
Porra, cara, apesar do frio que fazia no consultório, eu comecei a suar. Fiquei estático e com os olhos arregalados observando o ritual macabro da médica colocando as luvas. Minha alma desprendeu-se do corpo e saiu em disparada daquela sala de torturas. Eu queria acreditar que estava sonhando e pedia, desesperadamente, que alguém me acordasse daquele pesadelo.
- Meu Deus! – pensava querendo gritar - Isso não é verdade. Isso não pode estar acontecendo comigo.
De repente senti uma fisgada na porta de saída do meu reto e alguma coisa deslizou para dentro de mim invadindo o que de mais sagrado em tinha. A tragédia estava consumada. O invasor, arrastando-se pelas paredes do meu reto, adentrou e bagunçou o recinto da minha intimidade. O meliante, dentro de mim, mexia-se com desenvoltura e pressionava, impiedosamente, as minhas entranhas maltratando a minha bexiga e a minha uretra, fazendo-me sentir sensações que eu jamais sentiria se tivesse agasalhado os meus culhões com compressas de água morna. Agora é tarde. Fui estuprado sem piedade e abandonado ao relento, pois ao final daquele genocídio a minha algoz virou as costas, retirando-se e deixando-me deflorado na rua da amargura.
- Tudo bem Francisco você está ótimo, pode vestir a sua roupa.
Senti um líquido quente escorrer pela minha bunda e manchar o lençol. Era sangue. Acho que a unha da assassina arrebentou minhas pregas.
- Filha da puta!. – pensei revoltado - Me leva na conversa, faz o meu pinto sumir, aperta o meu saco, enfia o dedo no meu ânus, arrasa com a minha moral, rasga o meu inocente cuzinho, deixa-me traumatizado, satisfaz o seu ego e depois manda eu vestir a roupa e cair fora, dizendo que eu estou ótimo. Ah! Sua vagabunda, quando eu sair daqui vou direto para a DPVAM-Delegacia de Proteção a Virgindade Anal Masculina registrar uma queixa crime contra você. Vou fazer de tudo pra mantê-la trancafiada no xadrez evitando, desta forma, que você saia por aí estuprando outros inocentes iguais a mim. Você vai pagar pelo que fez sua desgraçada!
Peguei a receita com os exames que ela recomendou e sai varado. Passei pela recepção de cabeça baixa, sem olhar pra ninguém. Não esperei o elevador, desci pelas escadas e segui em passos largos para a estação do metrô. Naquele momento o que eu mais queria era chegar em casa para tomar um banho e apagar todos os resquícios da maldade que eu sofri e, depois, fazer compressas de água morna no saco e no ânus, agora eram os dois que doíam.
Peguei o trem do metrô e fiquei em pé porque eu não queria machucar o meu ânus mais do que as agressões que ele acabara de sofrer. Para meu castigo, quando a porta do trem abriu, na estação Praça Onze, entrou o miserável do Zeca pé de mesa.
- Chiiico! – falou o filho da puta, sem quaisquer cerimônias - O que é isso, amigão? Que cara é essa? Parece até que foi estuprado!
- Zeca, tu já fez exame de próstata? – perguntei, respirando fundo para aliviar a minha dor.
- Qual é, malandro!? Ta me achando com cara de quê? Eu sou espada! O meu reto é uma estrada de mão única e o fluxo é de dentro pra fora, nunca em sentido contrário.
Fiquei em silêncio por não ter condições de falar o mesmo.
- Chico! Chico! Acorda, homem de Deus! O teu exame com o proctologista é hoje às oito horas. Rápido, meu amor, senão você vai perder a consulta e o Dr. Alfredo viaja hoje.
Era Verinha me acordando. Puta que pariu! Vai começar tudo de novo. Só que agora é pra valer. Levantei fazendo beicinho e querendo chorar.
Jun/2007
Magno R Almeida
Nota do autor:
Todos os personagens e suas respectivas qualificações, bem como o enredo desta obra, são fictícios. Quaisquer semelhanças serão consideradas meras coincidências.