FRANCISCO PIMENTA DE OLIVEIRA E SILVA, este é o meu nome de batismo, mas sou conhecido como CHICO PIMENTA. Sou carioca, nascido e criado neste paraíso de mulher bonita chamado Rio de Janeiro – Cidade Maravilhosa. Tenho 45 anos, sou casado com Verinha, a mulatinha mais bonita do Brasil, pai de 3 filhos (juro pela tulipa do meu chope que são a minha cara, ou seja: lindos de morrer), sou funcionário público agregado na SSP-Secretaria de Segurança Pública onde exerço a função de escrevente em alguma Delegacia Policial do Rio de Janeiro. Vamos deixar bem claro: não sou detetive e nem investigador da Polícia Civil, não faço diligências, não faço prisões, nunca dei um tiro e nunca andei armado, enfim, sou apenas um bobalhão que registra, no computador, depoimentos de presos e queixas de vítimas. No jargão da bandidagem, otários iguais a mim são, carinhosamente, chamados de “bucha” (figura sem autoridade, não faz nada e leva a culpa, tipo assim: não comeu Mariazinha, mas assumiu a paternidade). Eu não ligo. É melhor ser “bucha” do que ser alvo das famigeradas AK-47, AR-15, 9mm e vários outros “dragões” que cospem fogo em cima da galera. Bem, agora que eu já me apresentei, vou contar a história que quase mudou a minha vida. Vamos lá!
Na véspera do meu aniversário de 40 anos encerrei o meu plantão às 18 horas, dispensei o tradicional chopinho no “Buraco da Cremilda” (boteco que tem em frente a delegacia que eu trabalho) peguei o meu Fiat 147, ano 1979, todo estropiado, e vazei pra casa. Queria chegar cedo e descansar para, no dia seguinte, comemorar os meus 40 anos em grande estilo.
Naquele dia, eu era o símbolo da felicidade. Imagina só, chegar aos 40 anos morando no Rio de Janeiro próximo ao Complexo do Alemão (conglomerado das favelas mais perigosas do Estado) e trabalhando numa Delegacia Policial. Cada minuto de vida é motivo para comemoração. Só uma coisa me preocupava: o tal exame da próstata que a minha mulher tanto falava e os meus amigos tanto sacaneavam.
Dizem que depois dos 40 anos todo homem tem que fazer esse exame, anualmente, e eu nunca simpatizei com essa idéia. A minha praia é outra, malandro, e esse papo de levar dedada não soa bem na minha cabeça. Não estou nem um pouco interessado em sofrer um estupro dessa natureza. O que tem me deixado mais puto é que, ultimamente, a Verinha, minha mulher, vem se mostrando muito prestativa para promover...digamos assim, minhas núpcias com um cara apelidado de proctologista e nessas horas, meu irmão, eu fico sempre mal humorado.
- Qual é Verinha? Sai pra lá, porra! Parece até que ta querendo se vingar mim. O que é isso, pretinha? Assim você vai manchar a honra do negão? Para com isso, vai. - Eu sempre reagia dessa forma quando Verinha tocava no assunto.
Muito bem, cheguei em casa dei um beijinho mal intencionado na minha pretinha cheirosa, brinquei um pouquinho com a criançada e fui jantar. Mal comecei a comer e lá vem Verinha com a porra do blá...blá...blá:
- Amor, marquei o proctologista pra segunda-feira às...
- Porra, mulher, não estraga o clima. Deixa que quando eu quiser perder a virgindade eu procuro esse cara.
- Mas...amorzinho...
- Amorzinho é o cacete, Vera! – cortei o papo - Eu não tô a fim de ser seduzido...chega...perdi a fome. Vera, quer saber? Vai lá no portão catar coquinho valeu? Aproveita e vê se eu tô lá na esquina batendo palmas pra maluco dançar. Não enche o meu saco ta legal? – falei puto da vida.
- Você é um grosso! Ta ficando neurótico.
- Chega Vera! Por favor, procura entender que...
- Entender o que, Chico? – gritou ela, babando e me atropelando de vez – Você depois de velho ta ficando babaca. Fazer exame de próstata não vai tirar a tua masculinidade, mas não fazer pode até te levar a morte. Vê se entende ô cabeça de camarão.
Fiquei calado para não agravar a discussão, mas no fundo eu achava que ela estava com toda razão. Mas como é que eu ia aceitar uma parada dessa. Eu fui educado no estilo durão tipo “homem não chora”. Lá em casa é todo mundo macho, menos minha mãe, é claro. Meu pai tira cisco do olho com ponta de faca. O que ele vai dizer quando souber que eu, o seu filho mais velho, um legítimo representante da família Pimenta, além de mostrar a bunda, deixei um cara enfiar o dedo no meu ânus? Ele vai me matar, cara. No pior das hipóteses ele vai me deserdar, tenho certeza.
Pensando nisso, não dei o braço a torcer, levantei e fui para a varanda conversar com o “Fred” (Fred é o meu cãozinho vira-latas), nessas horas só ele me entende. Fiquei tão puto que nem tive ânimo de assistir a novela Paraíso Tropical (gosto de ver a Bebel maltratando o cafetão e seduzindo o babaca do Olavo).
Lá pelas 11:40 da noite, ainda muito puto, fui me deitar na esperança de fazer as pazes com Verinha, mas ela ignorou a minha presença. Virei para o lado e tentei dormir. Meu caro amigo, agora começa o meu sofrimento.
Parece que foi praga da Vera. Poucos minutos depois, comecei a sentir umas fisgadas no saco, para ser mais preciso, nos culhões, ta ligado? Era uma dor tão fininha que descia pela perna esquerda, subia pela perna direita, passava pela virilha, escalava os intestinos, driblava o esôfago e se alojava no cérebro. Doía pra cacete, meu irmão. Eu tinha a estranha sensação de que estavam apertando os meus testículos com um alicate de pressão. Tentei lembrar se eu tinha batido em algum lugar ou se tinha cruzado as pernas de mau jeito, mas não consegui encontrar explicação para o fato. Comecei a ficar preocupado e rezei para todos os santos que passaram pela minha memória, até para o recém formado Frei Galvão eu apelei. Quanto mais eu rezava mais o saco doía. Cheguei a pensar que um tratamento de canal sem anestesia seria mais confortável do que aquela dor infernal que martelava os meus inocentes bagos.
Como eu não conseguia dormir, levantei, liguei o computador e comecei a navegar na internet. Parei num site erótico e fiquei observando. A dor que eu sentia era tão grande que, mesmo diante daquelas cenas tão picantes, o “Nelson Ned” nem se mexeu (Nelson Ned é o tratamento carinhoso que eu dou ao meu pinto, até porque ele – o meu pinto – também é bem miudinho). Vale dizer que, quando navego nesses sites, fico frustrado com o tamanho do bilau daqueles caras. Aquilo não pode ser verdade, cara. Se for, Deus foi muito cruel comigo. Nesse dia, ou melhor, nessa noite, eu vi um cara que parecia estar com a mangueira do corpo de bombeiros entre as pernas. Como pode uma mulher se sujeitar aquilo? Deus me livre!. Se eu fosse mulher só transava com cara igual a mim, com o pintinho pequenininho igual ao meu. Pode rir, eu não ligo. Ele é pequeno mas resolve, é experiente, executa suas funções com ótimo desempenho e nunca ficou desempregado. Mas tudo bem, deixa o “Nelson Ned” pra lá e vamos continuar com a narrativa do meu sofrimento.
Como eu não conseguia ficar excitado com aquelas cenas, deduzi que o meu pinto estava literalmente morto. Desliguei o computador e fui assistir TV na esperança de dormir. Vocês não vão acreditar, mas é a pura verdade. Num desses canais da TV a cabo, acho que era o GNT, estava passando uma reportagem sobre câncer de próstata. Fiquei ligadão na parada e até esqueci a dor. O locutor falava tudo em inglês, mas tinha legenda e eu fui lendo com a máxima atenção. Amigo, na medida em que eu ia lendo as informações do cara, eu ficava cada vez mais desolado. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto quando o cara falou que os primeiros sintomas de câncer na próstata manifestam-se com fortes dores na tal de bolsa escrotal. Bolsa escrotal! O que é isso? - Pensei e imediatamente deduzi que bolsa escrotal, saco, culhões, bagos e testículos, são tudo a mesma coisa e, naquele momento, o que eu menos queria saber era o nome científico dos companheiros inseparáveis do meu glorioso “Nelson Ned” (não esqueçam: “Nelson Ned” é o apelido do meu pinto). A cada informação que o locutor passava, o meu desespero aumentava. Quando terminou a reportagem balbucie desolado:
- Puta que pariu, chegou a minha hora, vou morrer!
(continua)