Chegou a hora de partir o silêncio ao meio. É tempo de dividir contigo as palavras que se têm amontoado na minha voz e me têm feito engasgar com frases que não te disse por medo, por vergonha, por amor (se assim lhe quiseres chamar). Nunca te disse que passei dias à espera que irrompesses por aquela porta. E não, não precisavas de ter entrado com um ramo de rosas na mão. Bastava simplesmente que tivesses chegado de braços abertos... que tivesses chegado com a tua presença.
Não sei ao certo porque teimas em insistir num café, numa qualquer conversa com esses telefonemas que só me deixam os pensamentos ainda mais atrofiados do que a própria atrofia que me prende o coração e debilita os sentimentos. Talvez se tivesses chegado no momento certo eu te tivesse dito tudo. Mas qual foi para ti esse momento? Qual é ele? Sinto que nunca te disse tudo. Sei que nunca te disse nada. E há sempre tanto para dizer quando nos despertam a mágica escondida nos cantos perdidos de um sentimento.
Realmente, às vezes, pergunto-me de onde vem o tal amor. Aquele amor que nos abraça e confunde, que nos prende os sentidos e os deixa meio perdidos. Não sei até que ponto o amor será amor, na medida em que dizemos e sentimos amar demais alguém e, ao mesmo tempo, nos amamos sempre de menos. E eu nunca cheguei a dizer-te, nunca te disse aquilo que sentia, porque tive medo de me entregar, porque senti que não me compreendias como precisei que me escutasses.
Será amor dar sempre o melhor de nós a alguém que não nos ama porque queremos a toda a força sermos amados? Será amor amar sem pedir nada em troca, apenas pela simplicidade de um sentimento que não conhecemos o conceito, mas sabemos a sua força? Talvez o amor seja mesmo intemporal, quando se ama desmedidamente, sem saber porquê, quem nunca para nós olhou para além do olhar! A intemporalidade do que senti perdeu-se nas noites do teu silêncio, nas horas vãs em que te sonhei. E não mais intemporal é o amor que nunca te falei, aquele que nunca te disse em palavras... o que nunca te escrevi num testamento amarrotado só para que soubesses que era teu... o que nunca te dei num beijo que me deixaste dar-te porque não queria que desconfiasses do que sentia... o que nunca te disse nos segredos que o meu corpo escondia quando se adicionava ao teu numa soma constante de prazer.
Nunca te disse, mas hoje quero que saibas que te amei quando me deste uma lágrima para preencher o espaço que estava destinado a essa amizade colorida ou a esse amor por pintar (chama-lhe o que quiseres chamar)!