PAULO MONTEIRO (*)
Senhora Alba Pires Ferreira, presidente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves, em cujo nome saúdo os demais integrantes da mesa e as personalidades presentes:
Sejam minhas primeiras palavras de agradecimento pela generosidade de meu confrade Nadir Silveira Dias em indicar-me para membro correspondente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves; de gratidão pela aprovação do meu nome e pela maneira carinhosa com que tenho sido tratado antes mesmo de tomar posse neste sodalício. Sejam minhas primeiras palavras, de igual agradecimento, pela escolha de minha filha Sara Adalía Machado Monteiro para integrar o Clube Infanto-Juvenil Erico Veríssimo, outra manifestação de vossa generosidade, em reconhecimento à participação dela no movimento Poetas Del Mundo.
Durante o II Encontro da Academia Brasileira de Letras – Revisitando os Clássicos, ocorrido em Passo Fundo, em 2007, o acadêmico Marcos Vinicios Villaça, então presidente da “Casa de Machado de Assis”, falando sobre a histórica vaidade dos imortais, contou sua convivência, desde moço, com Gilberto Freyre, um dos intelectuais mais vaidosos que o Brasil já produziu. O autor de “Casa Grande e Senzala” empregava o método de conviver com os mais jovens para dominar seu espírito vaidoso.
Senhora Presidenta Alba Pires Ferreira, esta casa, ao criar o Clube Infanto-Juvenil Erico Veríssimo, adotou um procedimento exemplar. Estes meus dois anos à frente da Academia Passo-Fundense de Letras têm sido um doutorado em administração de vaidades, próprias e alheias. A generosidade que tendes me dispensado, antes mesmo de assentar-me nesta cadeira sob o patronato de Aureliano de Figueiredo Pinto, comprova o acerto da convivência entre intelectuais veteranos e iniciantes. É o que temos feito em Passo Fundo, abrindo as portas de nossa setuagenária Academia à confraternização com jovens escritores e a tantos quantos escrevam.
Entro nesta casa conduzido pelas mãos de meu padrinho Nadir Silveira Dias, jurista, poeta e contista e sob o patronato do autor de “Romances de Estância e Querência”. Ambos nasceram no interior do Estado; um no Lajeadão dos Silveiras, em Piratini; outro na Fazenda São Domingos, em Tupanciretã; os dois fixaram-se na Capital Gaúcha, labutando no serviço público; o primeiro aqui permaneceu; o segundo retornou, não se aquerenciando às margens do Guaíba. Em ambos, guardadas as intensidades devidas, vicejam o lirismo e o amor ao meio rural.
Há muito mais em comum entre Nadir Silveira Dias e Aureliano de Figueiredo Pinto do que se possa imaginar. O lirismo, o bucolismo e o humanismo irmanam esses nomes que me tutelarão nesta casa. E com eles (temas e autores) me identifico. Pena é que não posso estender-me quanto a estas afinidades.
Nadir Silveira Dias, em seu livro “Rastros do Sentir”, assim se revela, no poema intitulado “POESIA, CANTO, PAIXÃO”:
A poesia que leio
Me faz reviver.
O canto que canto
Me faz renascer.
O assobio revela
O que não sei cantar
E tudo isso compõe
O amor, a paixão
Que tenho pela vida,
Pelos demais irmãos,
Pelo meu chão!
Ecoam estes versos o mesmo sentimento humanista que perpassa um dos mais belos poemas que já se escreveu no solo rio-grandense, “BISNETO DE FARROUPILHA”, de Aureliano de Figueiredo Pinto:
Pobre... Mas livre! Gauchito
no sol-a-sol, sou o que sou.
Pois nem dom Pedro Segundo
não pode – o senhor de um mundo!
dobrar o meu bisavô.
Com esta alma guapa nos tentos
debaixo do meu sombreiro,
pelo Poder e o Dinheiro
nunca ninguém me levou.
Pois nem o taura Castilhos,
famoso pelos codilhos,
pode voltear meu avô.
E ao tranco do meu Lobuno,
passam por mim carros finos,
com espertos e ladinos
que a escovação empilchou.
Sigo... Às vez’ sem nenhum cobre,
sem que a secura me dobre!
– Se meu Velho está índio pobre,
porque a ninguém se dobrou.
Conterrianos, moços lindos,
com humildades de escola,
curvam a espinha de mola,
no culto de um ditador,
seja qualquer que ele for!
– Com a fumaça de um bom fumo,
chapéu torto, corto o rumo,
ao tranco do meu Lobuno,
sem dar louvado a um senhor.
Deus velho dá o sol também
ao que sabe ser torena
e não suporta cadena
de feiticeiro ou papão.
Não me enredo nessas trampas!
E vou cruzando estes Pampas,
só escravo do coração...
.........................
AMGOS!... Quando eu me for
ao país do eterno olvido,
aqui fica este pedido
antes que a Morte comande!
– Ponham-me ao peito sem chucho
o santo trapo gaúcho
da tricolor do Rio Grande!
O protocolo e o respeito aos demais oradores impõem-me brevidade. Assim, como já vos disse, não posso aprofundar a análise literária dos dois poetas.
Quem quer que leia minha obra encontrará muitas afinidades com Nadir Silveira Dias e Aureliano de Figueiredo Pinto. E o duplo patrocínio desses dois nomes venerandos obriga-me a empregar todos os esforços possíveis para contribuir com este sodalício, fundado há 43 anos por uma plêiade intelectual hegemonizada por Celeste Maria do Amaral Masera, Italina Rangel do Amaral, Dora Konrad, Maria Carracedo Pampim, Virgínia Michielim, Cezarina Barreto Ayres e José Cezar Pinto.
Encerro minha palavras homenageando os demais confrades com um Rubay, o tradicional poema de origem árabe, que publiquem em diversos sítios da Internet:
Neste mundo de coisas abjetas,
onde falam por Deus falsos profetas,
da mesma foram que nos tempos bíblicos,
Deus fala pela boca dos poetas.
Muito obrigado.
(*) DISCURSO PRONUNCIADO PELO ACADÊMICO PAULO MONTEIRO, NO PLENÁRIO ANA TERRA, DA CÃMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, NO DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2009, AO TOMAR POSSE NA CADEIRA Nº 13 DA ACADEMIA DE ARTES, CIÊNCIAS E LETRAS CASTRO ALVES, COMO MEMBRO CORRESPONDENTE.
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos