Os versos que escorrem,
junto às gotas, na vidraça,
na tarde de chuva.
Os versos que escorrem,
junto às lágrimas,
na face,na dor, no sentimento.
Os versos que escorrem,
junto ao suor,no corpo,
no dia de trabalho, de luta.
Os versos que escorrem,
junto ao orvalho,nas plantas,
acordam e recebem a luz do novo dia.
Os versos que escorrem,
junto ao sangue, nas veias,
na vida crua e bela, na violência de nosso tempo.
Os versos que escorrem,
junto à tinta, nas telas,
nas mãos do artista.
Os versos que escorrem,
junto às ondas,nas praias,
nos mares, nas marés da vida.
Os versos que escorrem,
junto às chaminés, nas casas,
nas fábricas, no ar poluído que respiramos.
Os versos que escorrem,
junto à diarréia,na desnutrição,
na fome e abandono de nossas crianças,
Os versos que escorrem,
junto ao álcool, que inunda a alma,
onde perambula o medo, a tristeza.
Os versos que escorrem,
junto à poeira radioativa que o vento traz,
de usinas atômicas, o câncer fatal
Os versos que escorrem junto ao mofo,
que o tempo trouxe,
nestas páginas amarelas da vida.
AjAraújo, Agosto de 1979, lembrando Hiroxima, Nagasaki e agora Tchernobyl.