Arcas de Natal
[poema em sístole chuva e em diástole uva]
Na água da chuva que a tudo arrasta
Folhas, papéis, pedras, areias
A primavera que ao verão anuncia
Mais uma estação, de vidas e histórias
Em meio a tanta tragédia ambiental
Antes que se ergam novas moradas
Se refaz o espírito humano no Natal
No encontro, vinho e pão, águas passadas
Nos caminhos que se cruzam
Rotas descobertas ou esquecidas
Segue a vida, no relógio ritmado, atam
Almas solitárias ou solidárias
Nada mais sublime
Do que encontrar a paz deste momento
De pastores da montanha mais íngreme
Aos moradores do recanto
São escritos, pergaminhos como folhas soltas ao vento
Nos terminais longínquos onde passa a nave vagão
Conduzindo os seres para a derradeira estação
Como quem anuncia a chegada de um Deus inda menino.
Na mesa posta, a família, a ceia
Na oração do Verbo, silêncio, veneração e fé
Da lembrança, abraço e do presente até
O Natal tem o poder de renascer, de tecer o fio, de fluir o sangue, veia [da grande teia humana]
AjAraújo, poema escrito em 24/12/2008.