Afastei os lábios, num fechar de olhos delicado, senti uma secura enorme, apesar das mãos suadas, continuei ali deitado aproveitando o sussurrar de mais um amanhecer frio e bastante calmo.
A agitação empurrava os sentidos para uma luminosidade imperfeita, ofuscada uma e outra vez pelos fantasmas do pensamento ou de um abrir de olhos encadeado, … porque à procura de uma ilusão perdida ou vagamente imaginada.
O silêncio de novo, sim o silêncio voltava como uma onda de dor vibrante, arrebatadora como um coágulo que aumenta a cada inspirar profundo de tristeza, assim devastador porque de uma maneira ou de outra existem acontecimentos que não vamos nunca controlar.
Foi durante muito tempo algo iníquo, não saberei bem quanto porque ainda não terminou.
Continua a ser tão difícil entender, como um desejo me leva à obsessão e mais impraticável, porque não posso aceitar o quão ténue e rarefeito coloco desse ponto, a distância imensurável, ao ódio penoso.
A caminhada continua longa, ainda que encantado, não à espera de um carinho, mas de uma outra desilusão, vingança.
Manuel Rodrigues