Dias cinzentos
noites mal dormidas
sonhos desfazem-se feito miragens
pesadelos se descortinam como tempestades
Inquietam-me os segundos, mimnutos, horas
de uma ampulheta que verte celeremente os grãos de vida
atormentam-me os gestos des(feitos)
como as palavreas murmuradas ao silêncio d'alma
Dias assim, do choro reprimido
da dor deveras sentida
do lamento do poeta nos portais
do drama da existência humana,
Nestes tempos, afora outros
lá fora, a violência que dizima jovens
cá dentro, a turbulência de vidas em conflito
de uma adolescência perdida nos desencantos
Sentidos aguçados, angústia, depressão
No sofrimento das paixões cotidianas
Subitamente paralisam nossos filhos
Nas dúvidas e inquietações da vida moderna
Duro sentir-se impotente,
Reagir mas sem perder o toque de ternura
Quando a raiva impera
Somente a candura aplaca
Quando parece que toda a dor do mundo
Se concentra à tua volta,
Como um vulcão prestes à erupção,
Dá os primeiros sinais de fumaça,
No querer mudar e no deixar ficar,
Nas sutis manifestações do comportamento humano
Nos mecanismos de auto-defesa,
Como julgar a singularidade, nos arraigados
padrões de patologia e normalidade?
Na esperança de uma bonança
Após uma tempestade que se irrompe
Sobre nossas vidas, nossos lares,
Resta a fé, a coragem e a esperança...
E na reconstrução dos sonhos,
dos ritmos vitais, somente o amor
será capaz de suportar os obstáculos
e conflitos desses delicados momentos...
AjAraújo, poema intimista de drama real e cotidiano pelo qual passa muita gente, tampouco poupa o poeta, Outono, 2003.