Por outro lado a lua hoje está cinzenta
e um enorme escarcéu invadiu o mar, com ondas
revoltas elevando os barcos bem alto
por entre as muralhas de água, a cada onda
que passa, trazendo galgos brancos de espuma.
Na segurança da falésia, observo tudo, visto-te
de linho e dou por mim pensando em como somos
tão pequenos quando a natureza se resolve
manifestar em todo o seu fulgor de águas e de mato,
enquanto te olho profundamente nos olhos.
Começa a chover desesperadamente e encontro
um monólito para no abrigar e encho-te de beijos
aquecendo-te com o meu corpo, enquanto lá fora
as águas não param pegadas que estão, enquanto
nós abraçados falamos da fogueira dos teus olhos.
Por agora podemos sair de nosso abrigo visto que a
chuva desvaneceu mas um vento cortante põe-nos
de sobre aviso. E ao chegarmos junto do precipício
vemos que o mar está infernal batendo raivosamente
contra as paredes da rocha desgastada pela erosão.
As folhas das árvores viradas do avesso, por força do
vento adquirem uma cor verde mais clara e seca e
eu proponho-te um ritual: por meio de uma fita vermelha
uniremos nossos pulsos e faremos correr o sangue deste
amor, que apenas será separado pela falta do mesmo.
E o vento perpassa por nosso cabelos, enquanto pingos
de sangue se espalham pela natureza, e a mãe Cornuda
que a tudo preside, diz que o que une não mais separa,
só a falta de amor desobrigará, por ora unidos, para todo
o sempre em harmonia com a mãe natureza…
Jorge Humberto
16/11/09