Quando a luz teimava em entrar na janela, daquela menina a que chamo de bela, acordando-a como se fosse um despertador. Diferente forma de acordar pensam, eu diria uma forma tão natural como a sua forma de ser. Seu olhos iluminam-se ao acordar, aquele mar salgado imenso em tão doce e pequeno olhar, que nem sabia ela que um dia me iria lá afogar, mas vamos com calma. Sua forma de acordar lembra-me o nascer do sol, que vai nos acostumando à sua luz imensa, acordando devagar, para que possamos contemplar sua beleza única. Não sei seu nome, por isso continuarei a trata-la por bela. Bela é rapariga de idade certa e correcta para que possa viver a sua vida por si. Quando naquela terça-feira de manhã bebi o café que já anda viciado em mim, preso a letras daquele teimoso jornal, ela entrou e desprendi-me de tudo. Todos os nós, que sabemos que nos prendem, naquele momento soltaram-se. Trazia consigo a razão de quem a vê e de quem a ouve, em meu pensamento ouvi ela falar-me, um olá disse ela. O incêndio que em mim deflagrou ficou tão abafado queimando-me por dentro, por mais força que tenha, desvanece-se de forma tão vulgar. No silêncio do momento, não ouvi uma mais palavra sua, passaram-se mais que tempos em mim, e em futuro o momento que me quis falar. Ao acidente que tive naquela arma, carro, morri uns momentos, perdi de mim toda a força. Passaram-se tempos e nada mais me falava, lembrando sempre o olá que o meu pensamento ouviu da menina bela, que ainda hoje me ajuda a respirar.