NOITE TROVADORESCA
Oiço a voz cava do trovador. Escuto-a longe por detrás do tempo. Murmúrios de vozes que não reconheço, indecifráveis mas humanas, chegam até mim vindas de ignotas nascentes. Única testemunha a lua, agita-se em delírios de contentamento. Não sei se é a lua que se agita, se são os meus olhos que agitada a vêem. Mas delirante sim, ela a lua, só porque é testemunha e única. Serenas correm as águas do meu rio que o luar desta noite reflectem até ao infinito. Advinham-se acordes nunca escutados aparentemente provindos de esguias nuvens que á distância, respeitosamente, circundam a lua desta noite diferente. Ouvem-se ainda e mais claro nas palavras os cantos dos trovadores de outrora. Há sinfonia na natureza porque dois amantes se encontram sem que o mais pálido sonho o anunciasse, na arenosa margem do meu rio. É um encontro de encantamento porque feito de instantânea paixão. Levam-na à agudeza do fio da lança de Cupido. A terra estremece e a natureza percebe que é o amor dos dois amantes que despoleta coisas que nascem nas profundas da alma dos homens e se expressam de maneira sublime. A longe voz dos trovadores, a irrequietude da lua em volúpias de contentamento, a tranquilidade das águas. Mas sobretudo o estremecimento fundo daqueles que nesta hora se amam e são a raiz dos aparentes devaneios.
Antonius