Escrever à mão
Tem seu encanto
Gostinho de coisa da vovó
Aquele bolinho de fubá incomparável.
Vê-se bem
Se o autor vem em flocos
Crocante ou mais redondiço
Como a caligrafia acusasse mais intimidade
A garranchada fizesse sentido mais humano
Que hoje em dia nem toda prosa tem seu original
E quem sabe aos poetas do futuro
Em épocas um pouco mais distantes
Seja incompreensível a maisvalia do manuscrito
Que se se esqueça o porquê dum pequeno pedaço de papel arranhado poder vir a valer milhões em museus.
Que se se esqueça a noção soberba de eficiência e economia possível
Que a criança apreende quando é forçada a caber numa folha finita
E ela ainda tem tanto a dizer
Mas as linhas se exiguem e vem o sonho
Escrever em letras menores
Mais detalhadas
Legíveis
Mínimas
Querer expremer o máximo da eloquência ainda secreta no branco da página.
E já não pula mais linhas entre estrofes
Adota símbolos para transcrição posterior.
E começa a abreviar palavras
E a usar vagas na seda virgem até então jamais tocadas
Aqueles contornos horríveis entorno das espirais da cadernetinha.
E glozo comigo
Querendo ver valer o verde posto ao chão
Que habita este seminal embrulho
A agenda inusada.
Então solução
Compressão
Menos é mais
Sempre
Sim
Pouco mais precisa ser dito
É o milagre.
Como me dissessem que só poderei dizer mais mil palavras em meu espírito
Que diria então?
O que?
Que amo a tudo e todos
Que todos merecemos ser felizes
E que isso é muito fácil
Se a gente leva a sério toda aquela antiga lengalenga
Sobre o caminho do bem
Da paz
De ajudar o outro a se sarar e alumiar
É tarefa dos mais maduros a de alimpar e ensinar
Pois sem estas simples obrigações
Como pensaremos um futuro digno ao homem?
Não posso mudar o passado.
Mas vivo por ele e por tudo que me tocou
E por todo futuro que também viverá pelo passado como vivi.
E hoje agora será um dia o passado inspirador
Que não
Não
Mil vezes não!
Não deixou esquecer que o que mais conta
Vai ser sempre a alegria de trocar alegrias com os outros.