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.48.

 


. façam de conta que eu não estive cá .

e de dentro de mim chegam-me memórias, de rios de desespero, de toneladas de solidão, de potes de afecto encarcerado no íntimo das reconciliações. por ser domingo, chove, ou chove por ser domingo. à chuva já não escrevo odes, cânticos de amor e fel, ardor ou desamor de tempos idos, vindos de dentro, empurrados no peito, cravados no coração. trago outros bichos comigo, larvas decerto, que vão comendo os meus gestos, o movimento dos braços, a pele do corpo, mastigando o sangue na solidão destas horas. é dentro de mim que estes animais se reproduzem, quando, na morte lenta das memórias, um beijo procede o outro.
 
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Margarete
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/11/2009 11:28  Atualizado: 15/11/2009 11:28
 Re: .48.
Compreendo este texto na perfeição. Não precisava sequer de estar tão bem escrito.
Sinto a chuva também aqui. Dentro do peito, não é?

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 17/12/2009 21:20  Atualizado: 17/12/2009 21:20
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 Re: .48.