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Grãos de Areia (Oração da doação e gratidão)

 
Tags:  AjAraujo    poeta humanista  
 
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Pai, eu acredito que sei
o que deverei ser,
porém humilde reconheço
que ainda não sou...

Mesmo assim,
dou graças a Ti, pai eterno
por estares operando,
a mudança dentro de mim,

ainda que lentamente,
acontece minha evolução
como uma pessoa humana
e como ser único cósmico,

integrante da mesma espiral
evoluindo no espaço sideral,
integrando-me a outros seres
aperfeiçoo dons que me confiaste...

que nesta viagem possa retornar
ao centro deste poder criador
poder viver em harmonia e luz,
e irradiar para o infinito, a paz...

como minúsculos grãos de areia
que juntos refletem na praia
e conjugam os laços simbólicos
entre a terra, o mar e o ar,

De dia, ao sol aquecem
as criaturas humanas,
e, ao poente recebem
a lua e as gaivotas

e repetem em prontidão,
a cada dia, este ciclo,
diferente, diverso,
inigualável, único...

Doando cada ato, em gratidão
fazendo o labor em conjunto
brilhando para a eternidade,
em singeleza e delicadeza,

Como as dunas,
seguem o curso
e a direção dos ventos,
como um sopro Divino,

acariciando, ordenando
e reordenando as coisas,
amaciando as marés
e retornando as galés

tem matéria como nós,
como princípio de existir,
o de servir e, em servindo,
a missão consagrada permitir,

por serem também
criaturas do universo,
certamente este será
o grande sentido da vida,

aprender para ensinar,
e por ensinar, aprender
colher para alimentar,
e em alimentar, saciar

tecer para vestir,
abrigar para cuidar,
doar-se e permitir
a existência do outro.

Para o filósofo Hanns Jonas,
o ato de criação, por si só,
representou o maior ato de doação
que se tem notícia na história, pois:

"Deus ao contrair-se sobre si mesmo,
e ao expandir-se, gerou todo o cosmos
em grande ato de doação, abrindo mão
de Sua própria existência, plena e única."

Se Deus nos espaços antes absolutos
dos confins do universo,
Se permitiu toda a criação e reprodução
das espécies e elementos da natureza,

Por que nós - parte da obra universal -
não fazemos também a cada dia,
um generoso gesto de doação,
ainda que singular?

AjAraújo, o poeta humanista, poema escrito em novembro de 2009 e revisitado em dezembro de 2018.

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AjAraujo
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