Rápido, rápido, deixem-me passar!
Rápido, saiam, estou a chegar!
Abram alas, deixem espaço,
Aqui vou! Ansioso por um abraço!
Ao fundo, o comboio já apita,
Eu abro alas, por entre o cinzento alheio,
Por ali passo, por dentro a alma grita,
Por ali sigo, o meu coração cheio.
Coração cheio, o meu amor transborda,
Saiam da frente, deixem-me correr,
Ela aí vem, não a vejo por entre a orda,
Meros transeuntes que se arrastam a morrer.
A monotia das faces na estação,
Contrasta em tudo com a antecipação,
Da tua chegada, de poder dar-te a mão,
De te abraçar, de te beijar, pedir perdão!
E de repente, a estação iluminada,
Uma côr forte aquece a suja carruagem,
E a tua imagem resplandece e desce a escada,
Eu acelero sobre o cinzento, a voragem.
Olhos nos olhos, acredito no que vejo,
A felicidade concentrada neste beijo.
Abraço o tempo que parou, abraço o mundo,
E nesse abraço, no teu corpo eu me fundo.
Saímos juntos da limitante estação,
Que leva longe o nosso sofrimento,
Não partas mais, não me deixes sem razão,
Fica comigo, torna eterno este momento!
E vai parando tudo o que gira à nossa volta,
Carros abrandam, luzes mais acolhedoras,
Até que apenas o silêncio nos escolta,
Até que apenas nos importa que não foras.
Passa-se o tempo e tu voltas a partir.
Tão pouco tempo e volto a ficar sem ti!
Desta vez não, levo a mala e vou também.
Desta vez vou, vou feliz como ninguém.
Mas ninguém espera que na curva da viagem,
Aquele comboio acelerado perca a linha,
Caia da ponte depois de curta travagem,
Numa falésia, alta de arrepiar a espinha.
Junto seguimos monte abaixo, ao repelão,
Muito agarrados, face-na-face, mão-na-mão,
E assim partimos, assim acaba esta viagem,
Como uma chama que se extingue, uma miragem.
Uma vida cheia de momentos muito fortes,
E de tão fortes por ter sido tão vivida.
E para sempre será sabida a nossa sorte,
E para sempre nossa história conhecida.