Ao cair da tarde
Vêm notícias do porto
Maresias e correntes do Sul
O cais adormece sob luz prateada.
Os pescadores em gotas do suor,
Após um árduo dia de batalha
Aportam o barco, pesam o pescado,
E ganham algum trocado no dourado
Caminham com andar trôpego,
Exaustos retornam ao distante lar
A vida se cruza em comboios,
Trens cruzam, coletivos lotados
E nas filas que se formam
Em espaços comprimidos.
Atravessam ruas, avenidas,
Passarelas, viadutos, esquinas.
Linhas de nossas aventuras,
Traçando trajetórias humanas.
Neste trânsito louco engarrafado,
Juntam-se sucessivas gerações...
Cumpre-se a história humana,
No horizonte, mais um poente,
Na singularidade de cada pessoa,
Presente nos cruzamentos da vida.
Às vezes se percebe uma brisa
Que percorre e areja os poros,
Suavizando a intensa fadiga
E o calor de corpos suados
Ou o alegre brincar do pincel
Do vento com as nuvens,
A retratar uma aquarela
Do poente que a todos fascina.
Da terna natureza recortada
Surge um cheiro de mata.
A vastidão de arranha-céus
Para trás vai ficando.
Agora só resta,
A espera da janta
O desejo do aconchego
E amanhã tudo recomeça, outra vez...
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 2009.
Arte por Rob Gonsalves, pintor surrealista canadense.