Apeteceu-me dar corda a esta geringonça que, cá de dentro, me trabalha o pensamento a zeros e uns. Dei. Para trás e para diante em soluços bem medidos, em achaques de moldados responsos, lá se desenrola a corda de mola que me adequa a deduções e corações. Sofre-me a razão por isso mas, que importa se, no processo, me faz passear com passos de improviso cheios de mossas e, no entanto, tão desembaraçados.
Estranha-se o discurso desconexo com ares de balela abstracta chegada a cultura inteligente? Talvez. Mas é mesmo assim. É devaneio rico e embalado em papel celofane de cor garrida. No topo do bolo, um laço com uma fita de cetim, de um lado e, veludo do outro. Que enjoo! Deveria ser serapilheira rasgada. Desta forma, o contraste fazia-me pensar no porquê da riqueza das texturas do texto presente.
Delírio! Só pode ser. Deliro como quem espuma de raiva quando é contrariado no mais profundo orgulho. Deliro em delírio, sim senhor... ou senhora.
Tic tac tic tac. A corda desta geringonça continua a desenrolar a mola de caracol que ameaça a qualquer momento disparar e nunca mais guardar tensão.
De repente muda de ritmo e tic tic tac tac. Quase que caía, numa troca de pés que me entrelaçou o cérebro e, praticamente o transformou em miolo desfeito.
Finou-se-me o pensamento livre. Pediu-me mais corda e não lha dei. De perto, vi o siso assoar-se aos dedos e atirar um olhar de soslaio ao meu dizer mais coerente. Alto aí que não o quero assim. Retraí a língua e guardei-me dentro de uma caixa grande por motivos de espaço e de sanidade. Dei-lhe alguma ordem e pouca trela para o manter debaixo de olho. Segurei-o e mantive-o perto.
Cá estamos, por aqui andamos a distribuir votos sinceros de felizes para sempre com a noção absoluta de que um dia isto descamba para uma correria desenfreada que vai resultar num espalhanço do meu tamanho.
MJMS
A boa convivência não é uma questão de tolerância.
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