Poemas : 

SONETO (*)

 
Às vezes sou louça fina,
às vezes barro grosseiro.
Às vezes deito menina
e choro no travesseiro.

Às vezes me acho na esquina,
à caça de aventureiro,
e digo que a minha sina
é dar por qualquer dinheiro.

Às vezes sou Colombina,
cheirada de cocaína
no fogo de fevereiro.

Às vezes sou peregrina,
tão frágil, tão pequenina,
rezando p'lo mundo inteiro.

___________________

(*) publicado na revista Capricho sob o pseudônimo de Annabárbara.

_______________________

Annabárbara


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
sisnando
Publicado: 10/11/2009 16:06  Atualizado: 10/11/2009 16:06
Membro de honra
Usuário desde: 21/10/2008
Localidade:
Mensagens: 1114
 Re: SONETO (*)
gostei de ler este teu soneto!
uma lufada de ar fresco neste canto, onde a criatividade parece andar um pouco arredada!
Abraço

Enviado por Tópico
VIDEIRA
Publicado: 10/11/2009 16:21  Atualizado: 10/11/2009 16:21
Colaborador
Usuário desde: 30/10/2009
Localidade: Profundo Portugal
Mensagens: 502
 Re: SONETO (*)
Gostei muito, poeta. Do ritmo, da musicalidade, e, sobretudo, da expressividade, da mensagem, da perspectiva.

Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 10/11/2009 16:34  Atualizado: 10/11/2009 16:34
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: SONETO (*)
Um soneto singelo mas
que revela a tua imensa sensibilidade.
abraço, Julio
Vóny Ferreira

Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 10/11/2009 17:58  Atualizado: 10/11/2009 17:58
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: SONETO (*)
Na pele de Anna menina
à caça de m'acho na esquina.

Retalhos da vida em redondilha maior.

Um abraçooo!
Abilio

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 10/11/2009 20:23  Atualizado: 10/11/2009 20:23
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: SONETO (*)
tenho uma mais que admiração quando um poeta consegue desdobrar-se e soltar o outro vértice que há em si, neste caso o feminino, demonstra, a meu ver, não só a perícia literária como também o ser composto que é... confirma a dualidade do equilibrio.

beijo

Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 10/11/2009 20:55  Atualizado: 10/11/2009 20:56
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10799
 Re: SONETO (*)
É primeira vez que leio sua poesia e lá me cheirou a simplicidade que eu amo
ler, sou muito simples e adoro estar a ler e a poesia a entrar-me na alma.
E este seu soneto está muito bonito e desculpe não
leve a mal a comparação mas me pareceu dos meus.

abraço
rosa

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 10/11/2009 21:57  Atualizado: 10/11/2009 21:57
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 SONETO (*) ao mestre júlio
gosto sobretudo pelo complexo movimento de palavras que nos permite entrelaçar gestos. gosto da menina e do travesseiro, da quase puta à quase santa. e quase todas temos tudo isso aqui dentro. no cárcere de ser mulher.
parabéns amigo júlio.

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 10/11/2009 22:58  Atualizado: 10/11/2009 22:58
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11099
 Re: SONETO (*)
Júlio,
Às vezes também me revejo assim multifacetada, afinal, o ser humano é assim mesmo como as faces da lua.
Sob o pseudónimo de Annabárbara tenho lido coisas tuas muito interessantes.
Beijinhos (esperando que estejas melhor e com menos dores)
Nanda

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/11/2009 11:18  Atualizado: 11/11/2009 11:18
 Re: SONETO (*)
o tom simples dá um ar de criança perdida, que fica perfeito, quando combinado com coisas aveludadas, como «Às vezes sou Colombina/cheirada de cocaína/ no fogo de fevereiro».

um trabalho cuidado & perfeito.

abraço

mário


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/11/2009 19:31  Atualizado: 13/11/2009 19:32
 Re: SONETO (*)
Júlio,

a mesma e múltipla, tão variada em função das circuntâncias da(s) vida(s), como variada é a sua poiesis. Já o tinha lido no Currupião, e é um belíssimo poema.

DM