Num destes dias
Em que escorrem águas frias
Pelas paredes abaixo,
Deixou-se ficar, sossegada,
A vontade que pendia em cacho
De uma viga atravessada,
Naquele quarto de paredes sem cor
Que me resguarda do frio e do calor.
Agarrado a uma preguiça,
Suave e lenta,
Escorregou por gorda liça
Que nem se esgota nem se tenta,
O espírito que se agarra e contenta
Com o não fazer porque não quer.
Nestes dias de mole letargia,
Dos de cara taciturna,
Vem nascente e sombria
A noite mais diurna
Que alguém jamais desejaria
Guardar na algibeira
Para depois a tirar, assim o queira
E, deitá-la entre o quente e o morno...
Mesmo na fronteira do ermo com o termo.
Valdevinoxis
(originalmente publicado no Luso em 11/10/2007)
A boa convivência não é uma questão de tolerância.