A história que vou contar, fala dos tempos em que os fantasmas viviam e partilhavam dos mesmos sítios dos mortais.
Em 1890,vivia nos arredores da cidade de Setúbal, um homem misterioso, de aspecto porco, com a barba e cabelos sebentos, que lhe chegava aos pés.
Ninguém ao certo, naquela época, sabia que idade teria aquele homem, nem mesmo de onde tinha vindo. As pessoas contavam, que aquela solitária criatura, trazia má sorte e maldição a quem se cruza-se no seu caminho.
Muitos infelizes faleceram, tendo vozes mais críticas, relacionado essas mesmas mortes, com o facto das pessoas, momentos antes, terem visto ou falado com o homem das barbas.
Ao certo, nunca ninguém conseguiu arranjar explicação para as maldições e má sorte, que se apoderaram de uma ou outra pessoa que morava na azinhaga da Várzea.
A vida de alguns moradores começou a piorar, quando aquela criatura começou a ser um problema grave para a saúde pública. Falava-se mesmo num surto de peste negra na azinhaga.
O governador da cidade, após alguns manifestos e insistência da população, decidiu então intervir, dando ordens expressas para que fossem tomadas medidas contra aquele homem porco, que parecia contaminar por quem passava.
Foram então enviados ao local da residência do homem das barbas, dois agentes do Governador, com ordens claras de sua Ex.ª para o levar algemado, de modo a que a previdência, lhe corta-se o cabelo e o desinfestasse.
Apesar de a azinhaga ser um local pouco agradável, sempre havia quem gostasse de satisfazer a sua curiosidade e por lá passar, para tentar ver aquela criatura.
Os agentes do governador, assim como a maioria dos poucos curiosos que viram o homem fedorento, nunca chegaram a aparecer, ficando por se saber ao certo, quem seria aquele homem com barbas até aos pés.
Coincidência ou não, também o próprio Governador da cidade, acabou por desaparecer poucos dias depois dos seus dois agentes terem se deslocado àquele local.
Passaram-se mais alguns anos, sem que mais nenhuma criatura, tenha interferido ou importunado aquele misterioso homem.
Poucos na Várzea, gostavam ou se atreviam a ter conversas ou falar sobre o assunto, com receio de serem talvez amaldiçoados por aquela criatura.
A Tia Adelina, a mais velha residente na azinhaga da Várzea,com 92 anos, recorda-se de ter visto ainda em moça, aquele homem estranho de barbas até aos pés.
Apesar da sua longa idade, tem ainda a lucidez para dizer que aquele farrapo humano, é conhecido pelo homem das barbas, mas na verdade é o fantasma da Várzea, que sempre viveu ali durante séculos, para se apoderar das almas que se desviam do caminho de Deus.
Gabriel Reis