Mistério irónico este,
Que faz turvar a água mais limpa,
Que faz acender o fogo no frio da noite.
É fonte de luz,
Brilha por entre os defuntos
Que caminham perdidos, vivos,
Por entre a calçada que os afunda.
É história por contar.
Um conto de fazer corar,
Acto por repetir com os dedos das mãos.
Com os secretos lábios
Que se anunciam na sombra
Que os acolhe, discretos.
É questão de errar ou acertar,
Um conto de repetir e tentar,
Primeira vez para persistir,
Última vez para abrir
O que nunca se pode encerrar.
É segredo que murmura
No ouvido do sorriso,
Que cria desconfiança na alcoviteira
Ciumenta que olha para o rapaz
Ameaçado pela palavra dita
No ouvido de alguém.
É azeite que não mistura
Na verdade o fel da mentira,
Que revela o problema da verdade
Alcoviteira e fragilizada,
Que olha para trás
Como quem não perdeu nada
Senão a própria vista de se ver.
Somos na verdade um azeite
Que não conseguem tocar,
Os que lá em baixo, afogados,
Gritam por água para respirar.
Somos um mistério
Que perturba as mentes serenas,
Um enigma
Que cria ódios e crias obscenas.
Somos nós,
Fora do universo,
A pairar sobre ele,
Como se nada fosse,
Sorriso apenas.