A procura tortuosa
Da parte afastada de mim,
Da metade fugaz da minha alma
Promovida a porto-seguro
Pela empírica noção deturpada
De felicidade,
Guiava-me em campos coloridos
Numa busca por algo
Tão distante de mim
Quanto à espessura que separa
A Terra e o Firmamento.
E diante de um bosque,
No emaranhado de cores e perfumes,
Encontrei o que procurava
Justamente na ausência...
Na única rosa branca,
Que destilava sua indiferença
Na opacidade da sua figura.
Tomado de um júbilo tenaz
Agarrei-a em minhas mãos.
Embriagado da sobriedade dos amantes
Sentia a eternidade transcendental do efêmero,
Vendia a liberdade das minhas mãos
A suavidade do seu toque.
Ignorava o corte dos espinhos
Que penetravam a carne impiedosamente,
E sorria ao gotejar de sangue entre os dedos.
Caminhava sobre a linha tênue
Da dor e do espasmo.
Sufocava-a com a delicadeza
Característica da obsessão
Até esgotar a última gota de vida
E soltá-la ao chão
Com marcas profundas em mim,
E repudiando a existência insignificante
Da rosa...
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros
Poema republicado com outro título.