Possua-me, Deus, possua-me, Deus! Possua-me com todo o seu vigor! Encha-me, encha-me!… [10 vezes]
Porta aberta. Entrou. Ela ajoelhada, olhos esbugalhados, o buço suado. As duas mãos apontadas para o alto.
"Sete horas da manhã e aquela porra toda?", ele pensava.
Possua-me, Deus, possua-me, Deus!…
Num deu outra. E, foi com a faca de cortar carne mesmo, aquela estilo açougueiro, cujo cabo branco é da cor da nuvem donde Nosso Senhor dá as ordens. Rasgou a barriga dela e chutou o rádio.
Preso. 12 anos de cadeia.
Antes dele chegar ao presídio, Montoia — o agente penitenciário — contactou os pastores, isto é, os detentos que fazem o diabo ter vergonha de suas puerilidades.
Montoia: Tá chegando um cara aí, bicho, que eu vou te contar, viu…
Pastor Jó: O quê que ele fez?
Montoia (a dar uma risadinha de malandro): Um menagi a truá com uma irmã.
Pastor Jó: Que porra é essa?
Montoia (fazendo o movimento de cópula): Assim, matou uma irmã que tava rezando, aí ele sodomizou Jesus e a irmã! Um surubão!
Pastor Jó (gesticulando): Sodomizou?
Montoia: É, meu amigo!, é! Comeu o cu dela e de Deus, entendeu?, pegou o pau assim, ó (juntou o indicador com o polegar, e com o indicador doutra mão inseriu no circulo que formara), coisa de louco! (daí contou a história completa).
Pastor Jó: Tá fodido!
Chegou ao presídio. Dir-se-ia que uma inquisição luterana o esperava. Curraram-lhe de 20 maneiras diferentes, um Kama Sutra à Calvino.
No cárcere, com o cu inchado, costurava bolas que ninguém usava. Devido a isso saiu mais rápido da prisão. Não preciso mencionar que ele ficou sendo obreiro da Igreja do presídio Santa Rita. A tarefa era soltar a rabiola para a rapaziada, os irmãos. Mas, um dia, saiu.
Vagou a tarde inteira. No final da noite entrou num boteco, pediu um cigarro, conseguiu. Sentou-se num meio-fio, olhava as pessoas saindo do trabalho. Seu olhar ia em direcção às nádegas dos transeuntes. Imagina que cada um carregava um cu fedorento, um cu que deambulava, um cu que carregava a podridão. O ser humano já nascia podre. Era isso.
Apagou o cigarro, deitou no meio-fio. Nada de poético ocorreu com nosso herói! A história? Interrompamo-na, agora, aqui!