Sobre o asfalto
Pendendo todos os sonhos
Curvado no balançar das vértebras
Redimo, rimo, afirmo o testemunho
Sobre o asfalto
Qual astro errante neste solo urbano
Sangue irrigado pela chuva, a escorrer
Em frias gotas, coágulos nas ruas vazias
Sobre o asfalto
Encobertos na multidão de olhares
Distantes nos caminhos, só descaminhos
Que se perdem, se repetem e cansam
Sobre o asfalto
No veloz comboio de carros e humanos
Sonho com velhos tempos de charretes,
de cavalos, de bicicletas, de bondes...
Sobre o asfalto
Imagino uma estrada de terra tão somente
Onde no pó não haja óleo ou sangue inocente
De pedestres, vítimas deste caos urbano...
* O poeta testemunha e ajuda a socorrer uma senhora atingida por bala perdida, em Bonsucesso – RJ, na Av. Brasil, em maio de 1976.
Imagem: Acidente de trânsito em 1904