Muro que pulei na casa da menina
Outro os homens fizeram na Palestina
E aquele caiu na vizinha Diamantina
Muro entre quem mal aprende o que ensina
Muro que segura o bêbado de esperança
Outro que divide o destino da criança
Muro duro quebrando os atos e a aliança
Como tanque sobre os homens avança
Muro que marca divisas e define limites
Que mata o espaço onde a paz não existe
Prende vidas, muda o alegre, cria o triste
Muro calado machuca a terra, insiste
Muro rasgando montanhas no oriente
Solta o triste olhar, prende o contente
Muro mudo aqui e em todo o continente
Povo isolado é tudo que futuro pressente
Muro qualquer homem pode fazer
Difícil é rimar alegria com sofrer
Talvez nem fé, nem esperança ter
E entre muros um dia mais cedo morrer
José Veríssimo