Não consigo.
Fecho os olhos e vejo a pausa no tempo. Vejo-a como se sorrisse para mim.
Não é uma pausa, no fundo. Sou eu. Só eu a pedir descanso e paragem ao cérebro. Mas não existem. Não há paragem. Não há descanso. E, mesmo que eu me prenda ao mesmo pensamento – tentando não avançar no tempo – este continua a avançar. Avança ele. Avanço eu.
Eu não quero avançar.
Avançar significa estar mais longe do que eu desejei ser para sempre, porque o que era para sempre, não o foi.
Eu empenhei-me de uma forma alucinante. Nem eu sabia que havia essa força em mim, essa capacidade de entrega. Eu nunca soube como dizer o que sentia, mas sempre vos quis dizer, sempre quis ser forte o suficiente para vos mostrar como eu era realmente. Eu entreguei-me.
Raras foram as vezes em que me entreguei a alguém de semelhante forma.
Haviam alturas, na nossa relação, em que eu sabia que me ia arrepender. Haviam outras em que eu me estava a cagar para o que sabia. “Não importa” pensava. E a coisa passava.
Eu sabia que haviam palavras, coisas que eu não deveria contar, caso ainda quisesse ter algum controlo sobre a situação, ou quisesse sair disto de cabeça erguida. Eu sabia quando estava a contar o que nunca contara, mas pensava que a moeda de troca compensava suficientemente. E compensava. Compensava ao ponto de eu desenrolar tudo o que sentia, chorar baba e ranho e sentir-me tão maravilhosamente bem que o Paraíso, e tudo o que isto significava, já não eram igualáveis.
Era uma droga. Fazia tão bem… Fazia-me sentir tão bem…
Eu viciei-me em vocês de uma forma que devia ter evitado. Nunca devia ter permitido os abraços, as palavras, a compreensão. Eu sabia no que me metia. Já me tinha queimado tantas vezes. Eu sabia e, mesmo assim, achei a maré branda o suficiente para me deixar navegar. Ignorei o facto de o mar ser misterioso. Ignorei os seus humores irreverentes e interiorizei que era com vocês que ia encontrar terra firme.
Eu não encontrei terra firme. Mas isso, no fundo, não era o mais importante. O que me mandou, literalmente, abaixo, foi ter-vos perdido durante a viagem.
Eu não sabia o que nos ligava.
Talvez fossem a capacidade de abertura e a necessidade de sinceridade colectiva. Ambas queríamos que o Mundo nos ouvisse, mas sabíamos que bastava ouvir-nos umas às outras.
Ou talvez fosse o calor humano que cada uma de nós possuía à sua maneira… a maneira de pensar e sentir.
Não sei. Algo nos ligava.
Mas essa corda, esse… elo, rompeu-se. Quase tão fácil e rapidamente quanto quando surgiu.
Provavelmente eu devia ignorar tudo isto, bater em retirada, esquecer o passado que só vai corroer o que sobra de coração em mim.
Mas eu não consigo.
Os amores que tocam, ficam de uma forma indestrutível. Mesmo que só eu pense neles. Mesmo que fiquem só em mim.
Eu não vos culpo por esquecerem.
Eu felicito-vos. Quem me dera poder!
Não é para todos, a capacidade de ignorar a dor de um passado, ainda mais um passado recente. Eu não tenho nada contra. Força!
Sigam as vossas vidas. Corram até às vossas vitórias.
Não precisam de me dizer mais nada. Eu vou torcer pela vossa felicidade, como sempre torci. Hei-de vos felicitar, silenciosamente, por todas as etapas e desafios vencidos. Vou assistir, pelos bastidores, escondida entre as cortinas, aos abraços que irão dar à família – que eu já conheci tão bem, que já tinha como minha – e aos novos e perfeitos amigos.
Vou chorar – Céus, como vou! – mas vou sorrir ao mesmo tempo. E vou sentir-me feliz, ignorando os gritos de desespero do meu coração.
Vou sentir apunhalar cada pulmão sempre que vos lançar um sorriso invisível, um sorriso que a membrana – também invisível - do esquecimento não vos vai deixar ver, mas eu vou estar lá.
Não ouvirão as minhas palmas, porque estas se irão misturar com as de todos os outros. Mas eu vou estar lá, metade viva, metade morta.
Como sei isto? Simples, tão simples.
Amo-vos.
E não é fácil dizê-lo, acreditem. O meu ego, a minha auto estima, o meu orgulho revoltam-se quando o admito.
Não é bom amar. Mas, foda-se, já que estou tão entregue, ao menos admito-o!
Vocês fazem parte de mim. Eu não vos quero remover.
Eu aceito qualquer tortura que venha de vós. Aceito-a com um sorriso.
Quero a vossa felicidade acima da minha.
Amo-vos.
Isso explica tudo.
Amo-vos.
Allandira
Olá.
Antes de mais, gostava de dizer que estou de volta, ainda que não tenha feito muita falta.
Muita coisa mudou na minha vida. O desenvolvimento fez-se notar, bem como outras coisas.
Queria agradecer a quem me tentou ajudar com o site - a minha conta esteve inactiva durante muito tempo e, ao que parece, parecia precisar apenas de descanso (apesar de não ser muito usada de qualquer forma).
Obrigada pela paciência e apoio!
Beijinhos.