Poemas : 

Hibernação

 


Cantam coros angélicos,
desaparecidos na mata obscura,
no chão petrificado de prazeres ocultados pela noite.
Enevoam-me o olhar as vestes translúcidas, transfiguradas,
encantam-me amantes lívidos, no desespero calado.

Tenho um pacto com a demência voraz,
com a bruma putrefacta e dada, prostituta da morte,
tenho uma calma falsa, vestimenta de sacrários sujos,
tenho mil anos de vivências, corpos mais que muitos.

Cansam-me, gentilmente, os odores da paisagem,
transpiro águas geladas nas frestas das montanhas,
derramo-me na cama estrelada, transformada em soluço,
finjo-me cordeiro manso, coruja adormecida,
hiberno nos Verões da alma,
ofusco-me com a simples vaga das marés lunares.

Tenho-me gerado a mim mesmo,
sou mortal, nas asas de um colibri alado, inocente e selvagem.

 
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jomasipe
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Enviado por Tópico
José António Antunes
Publicado: 31/10/2009 09:19  Atualizado: 31/10/2009 09:19
Super Participativo
Usuário desde: 08/03/2008
Localidade: Portugal
Mensagens: 153
 Re: Hibernação
Imagens bem conseguidas num bom poema.


Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 31/10/2009 10:52  Atualizado: 31/10/2009 10:52
Usuário desde: 28/09/2009
Localidade:
Mensagens: 947
 Re: Hibernação
"prostituta da morte" adorei esta expressão!!
Parabéns por este poema...
Beijinhos.


Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 31/10/2009 15:14  Atualizado: 31/10/2009 15:14
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
Localidade:
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 Re: Hibernação
És gerado na transpiração salgada das letras selvagens que palmilham a noite...

abraço


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 01/11/2009 01:08  Atualizado: 01/11/2009 01:08
Usuário desde: 28/07/2009
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Mensagens: 10799
 Re: Hibernação
Belo como os demais que me deu muito prazer ler.
Díficil é comentar, tão grande Poeta, mas não deixo passar sem que lhe diga que o adoro ler.


beijo amigo
bom domingo
rosa