Alvorada azeda
Vómito gástrico enegrecido
Declina pudor
Além pejo, avistado vindo
Na rua cão derrubado
O passeio, a almofada, o encosto
Cheiro fétido
Couro de suor encardido
Mirar ferraduras e éguas
Uma pauta em trote lento
Apontam-me…
«Quem és tu?»
Voz familiar, desassossegada
«Sou eu, apenas não o posso provar»
«Não és não, não és quem dizes»
«Sou eu, apenas não o posso provar»
Arqueiro da calçada
Repousa o dia em serviço
Horários findos
Acorda e trabalha
Proteje a rua
Adorna o caixote e o lar
Carruagens insistem, também tu tal
Dilata ao sol da manhã
Corpo que alonga e fim cede
Sucumbe ao desenho geométrico
Já não estás quando olho…
Guardaste a pergunta
O sonho e a razão
Vendados sem fôlego
Derrotado, coço as crostas no tempo
O perdido
As lágrimas pelo soalho empedrado
Pétalas são coroando o rei defunto
«Sou eu, apenas não o posso provar»
«Antes teor que teorema, vê lá se além de poeta és tu poema»
Agostinho da Silva