Meus dias passam lentamente como serenas marolas
E nenhuma cortina se abre diante de mim
Sinto meu corpo preso á uma corrente coberta de argolas
Vejo meu começo chegando perto do fim
Um monólogo que encena seu último ato
Segurando sua caveira com as mãos sujas de sangue
Declamando seu poema para as cadeiras vazias do teatro
Deixando cair uma última lágrima escondendo o vexame
Nem um alento seria capaz de sarar tal ferida
De que adianta o brotar das palavras
De uma peça que jamais será lida
Morrerá com sua arte o pobre artista?
Talvez um dia alguém o descubra
E assim reconhecido, não mais morrerá
Sandro Kretus