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trinta e 8

 


. façam de conta que eu não estive cá .

costumava amar-me em espaços e tempos diferentes. amava-me à superfície e eu nunca a soube amar senão na profundidade. era eu que fugia, sempre, por uns dias, alongava-me na estrada para lhe dar espaço, para me dar espaço, para compreender como mudam as pessoas, como se alteram os afectos, para, no segredo da minha própria solidão, encontrar em mim o som dos seus passos, tão violentamente atados aos meus pés, que poucos dias depois estava de volta, e todos os regressos eram como mortes de árvores que se cortam ao meio. como seria possível o amor doer. era na humidade do rosto que se criavam larvas, bichos acostumados à lama dos sentimentos, alimentavam-se das lágrimas e ali iam ficando, junto aos olhos, a criar apatia. em mim crescia uma tristeza passiva, dessas que se encostam a nós como doenças e ficam, a aumentar-nos o negrume nas entranhas. a mim tudo me doía de uma forma lenta, tão lenta que eu próprio não me dava conta de como morria, pouco a pouco, em mim, de amor, ou de outra coisa qualquer a ele tão semelhante que dificíl seria não lhe chamar, amor.
 
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Margarete
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/10/2009 18:44  Atualizado: 29/10/2009 18:44
 Re: trinta e 8
Um amor desses, ou seja outra coisa com o mesmo nome, é muito difícil de se exprimir, dado o negrume onde por vezes os olhos se perdem, quase cegos, em busca não da luz, mas do fogo, da chama que o alimenta.

Tenho vindo a ler estes belos textos, e só agora me deu para os comentar, e apeteceu-me roubar a Cioran o título de um dos seus livros, para lhes chamar também "silogismos da amargura".

DM

Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 29/10/2009 18:52  Atualizado: 29/10/2009 18:52
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 Re: trinta e 8
Já li e reli este teu texto. Fica-se suspenso na profundidade que evoca sobre o amor e amar.

abraço

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 29/10/2009 18:59  Atualizado: 29/10/2009 19:00
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 Re: trinta e 8
no amor o que dói é a ausência,o desencontro.às vezes apenas um olhar tão diverso e projectado de uma perspectiva tão outra,que não permite a intersecção ,quando tudo o que se deseja é a união...

cada texto teu toca uma ferida concreta que sangra ,que se funde com o leitor e o agarra a ela,num profundo entendimento,numa profunda empatia.
uma boa leitura é sempre um encontro qualquer.
beijo,mar.
alex

Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 29/10/2009 19:22  Atualizado: 29/10/2009 19:22
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 Re: trinta e 8 p/margarete
mar,

ao mesmo tempo em que amo, tenho medo, às vezes, do que você escreve.

carinho,

j.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/10/2009 19:50  Atualizado: 29/10/2009 19:51
 Re: trinta e 8
incompreender-se para compreender. deixar-se imolar pelos pensamentos como experimentos para saciar-se da dor. morrer para entender a vida. tudo exposto na superfície, em nome do amor.
um beijo de oceano nesse mar.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/10/2009 20:31  Atualizado: 29/10/2009 20:31
 Re: trinta e 8
Está quase a chegar à minha idade...
É um prazer a leitura dos teus textos, que parecendo muitas vezes pessoais, servem a cada um (leitor) como fio.
Do novelo dos dias ficam as palavras a bailar na alma de quem se agasalha nelas.
Manifestamente o teu caso.
Um prazer reencontrar-te pessoalmente.

Enviado por Tópico
luciusantonius
Publicado: 29/10/2009 21:36  Atualizado: 29/10/2009 21:36
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 Re: trinta e 8
Surpreende-me que tenha precisado de a conhecer pesoalmente para me dar à curiosidade de ler os seus textos. Depois de mastigar os mais recentes borbulha-me na cabeça o conteúdo deste último. Tive o prazer de me sentir perante uma poeta consumada.
Felicito-a francamente
Um abraço
Antonius

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 29/10/2009 22:23  Atualizado: 29/10/2009 22:23
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 Re: trinta e 8
sossegas os pássaros nas pontas dos dedos.o cigarro que queima, a cinza no tapete de pele sensivel.no quarto, uma mao que desliza a parte mais ferida do corpo e toca-te mais uma vez o amor.e eu encontro-te nas fissuras de um abraço que nao se concretiza.vens de uma outra lingua.vens das cidades,dos neons que ofuscam os silencios dos trauseuntes.teu coraçao analgésico na rua.álea que se perde o rasto.perseguem-te os homens, carrascos na orla do tempo gelo.eu,simplesmente bebo a languidez das tuas temporas gestuais.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 30/10/2009 23:38  Atualizado: 30/10/2009 23:38
 Re: trinta e 8
como seria possível o amor doer...

vi neste texto o peso que as tuas palavras têm, como sentes tudo isto nas tuas entranhas. Mas é assim, o amor é morte e por vezes, doí.

Gostei do texto=)