A nossa morte
há-de levar consigo todas as
palavras que dissermos.
- Fernando Pinto do Amaral
Nada me pertence;
as frases repetidas
e a inabalável cascata
dos versos: nada me pertence.
Anoiteces-me num mar negro
que se arrasta pelas ruas
com a pressa das palavras
e já nada me pertence.
Se algo me sobrar de cada poema,
a solidão em estado líquido,
a vertigem e o sobressalto
de uma noite em estilhaços,
entorná-los-ei no teu peito
como quem morre
de dentro para fora
à espera do verão.
*
João Coelho
Évora