Mais um dia...
Será que vai ser o último?
Acordo com um bófia, a pontapear me,
Lá vou eu, ver se uns trocos consigo arranjar...
Se não mos derem, vou ter mesmo de os gamar...
A hora da dose ta chegar,
Ainda tenho de arranjar dinheiro, para a ir comprar...
Hoje ta tudo de pernas pro ar
Nem uns miseros centimos consegui arranjar,
Não me sinto com forças, para esperar
Vou ter mesmo, de o gamar...
Tenho o interior do meu corpo em desespero,
Aqueles bichos de baixo da pele poem-me louco,
Tou todo arranhado, esta cena dói, e não é pouco
Mais uma vez roubei
Foi muito facil, aqui nunca pensei
A bolsa da "cota", tava recheada
Já vai dar para uma dose, bem abonada
Já ta ali o gajo, á mesma hora de sempre,
É agora menino riquinho, á conta da gente,
Enfim, andam a ganhar dinheiro desta forma indecente...
Já tenho tudo o que preciso, a colher, a prata e o limão...
E esta grande dose, toda na minha mão...
Aih que sensação, depois de injectar parece que sou o dono do mundo...
E sem ela, não passo de um drogado vagabundo...
Vem um homem na minha direcção,
O quer ele, de mim? que não passo de um ladrão,
Era o filho da cota, que gamei,
Deu me tantas, que nem me levantei...
Agora tou aqui, dorido por dentro e por fora,
E fico aqui á espera que chegue a minha hora....
Cathia Chumbo
Acho que neste poema, encarnei num consumidor de drogas, e mais uma vez utilizei como base, casos a que assistimos infelizmente no nosso quotidiano.
Cathia Chumbo