Poemas : 

Volúpia oculta de uma catedral soterrada

 


Rezei na noite obscura, silêncios vãos pela razão,
cantei-te na volúpia oculta de uma catedral soterrada,
sofri nos espelhos quebrados sujos de sangue,
ocultei-me do mundo, sou sôfrego no teu peito.
Devorar-te-ia em instantes, o sopro indelével da tua respiração.
No relampejo do trovão luminoso, saceio-te em mim,
entoo-te uma serenata escura, calada, negra e silenciosa.
Há mil anos de silêncios crucificados na mortalha seca,
há mil histórias que poderia contar-te para te embalar.
Nada se compara, nem o sangue, nem o odor, nem o sémen,
nada se compara, nem a palavra, o cheiro, nem o fluído real,
nada é comparável no toque lânguido serenado pela paixão.
Entro em ti, penetro teus mundos ocultados pelo véu calado,
calo-me em segundos, duras um momento mais em mim,
calas-me no abraço nocturno, apaixono-me por ti.
Dás luz à chuva clara, translúcida, pálida e transparente,
és sujidade luminosa, habitante dos casebres abandonados,
recebes-me, aperfilhas os meus dedos serviçais,
eles sabem quando fugir e voltar, dar-te ou receber de ti,
eles sabem quando sofres a ânsia pelo toque que não vem.

 
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jomasipe
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 27/10/2009 18:25  Atualizado: 27/10/2009 18:25
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
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Mensagens: 3482
 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
Como penetram os teus dedos em volúpia translúcida, na avidez da folha que te sorve em sôfrega respiração...

abraço


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 27/10/2009 18:56  Atualizado: 27/10/2009 18:58
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
a tua escrita quase como autos-de fé, é de uma riqueza e vivacidade que toca até os mais descrentes. associa o todo culto da natureza e tudo a ela sibjacente entre a luz e sombra, expande-se entre o pagão e o seu inverso, entre a dualidade do feminino e masculino.

é sempre uma experiência hedonista e onanista ler-te

beijo


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 27/10/2009 19:11  Atualizado: 27/10/2009 19:11
Usuário desde: 28/07/2009
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Mensagens: 10799
 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
Muito belo, fiquei na tentação de voltar a ler.

Quem escreve assim, só pode ir longe, e tu és luminoso vais conseguir.
É com muito carinho que te desejo muita sorte.

beijinho
rosa


Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 27/10/2009 21:05  Atualizado: 27/10/2009 21:05
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
por vezes sinto que te conheço, nao sei se pelo o que escreves e como o fazes ou pelo o que sinto ao ler-te.

beijo
MG


Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 28/10/2009 09:28  Atualizado: 28/10/2009 09:51
Colaborador
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Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
caro poeta,

parto do princípio que não se deve avaliar um poeta por um único poema - há poetas de um só poema, você sabe. para se fazer um julgamento - esta palavra não é bem adequada -, mas para se fazer uma análise crítica, segundo as regras da ética e da honestidade principalmente, é preciso conhecer um pouquinho mais do que o poeta nos tem a oferecer. venho acompanhando sua poesia de algum tempo. uma poesia solitária, quase que, perdoe-me a imagem, fechada na clausura de um mosteiro.chamou-me à atenção, em especial, este seu Volúpia oculta de uma catedral soterrada. como bem assinalou a maria joão (horroris causa) sua poesia é quase um auto de fé. mas um auto de fé profano. o que tem isso? o sagrado e o profano sempre caminharam de mãos dadas, tão íntimos que são. quem lê com atenção a sua poesia, não está lendo apenas, porque existe a possibilidade de enxergá-la, tamanha a habilidade com que as imagens são talhadas e as palavras cuidadosamente colocadas, cada uma delas no lugar certo,no tempo certo, como o poema exige. digo que os seus poemas são peças artesanais, de tão bem trabalhados. não me parece coisa de inspiração, até porque não creio nisso, mas fruto de quem elabora o poema com cuidado e respeito. quero destacar no conjunto deste poema a imagem: "Há mil anos de silêncio crucificado na mortalha seca". o resto, meu caro poeta, a gente deixa o poema correr diante dos nossos olhos e o vai lendo e assistindo, envolto também num sambenito, como se fosse um belo episódio medieval. tão belo que às vezes nos enche de pavor.

saúdo-o daqui, deste outro lado do mar.

júlio saraiva


Enviado por Tópico
ÔNIX
Publicado: 28/10/2009 14:02  Atualizado: 28/10/2009 14:02
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 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
“Há mil anos de silêncios crucificados na mortalha seca"
Há mil histórias que poderia contar-te para te embalar.”

Há no mundo calado, uma breve história que nos fez voltar.
Sou só eu e tu e há mortalhas caídas a nossos pés.
Se pudéssemos revezar-nos através dos muros da saudade, eu iria e tu virias em tempos diferentes, e transformaríamos a paixão em cânticos primaveris, em sons para a eternidade...

Este poema está para além de belo...


Bjs


Matilde D'Ônix


Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 29/10/2009 10:45  Atualizado: 29/10/2009 10:45
Usuário desde: 28/09/2009
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 Re: Volúpia oculta de uma catedral soterrada
As tuas palavras são mesmo escolhidas pela alma...
parabéns.
Beijo.