Estava a disputar o último set quando vi entrar uma jovem numa cadeira de rodas empurrada por uma mulher bem vestida e calma, de farta cabeleira e uma touca branca. Enfermeira? -interroguei-me.
Parou de empurrar a cadeira e depois de trocarem algumas impressões entre elas, a mulher de touca branca rodou a cadeira de rodas para uma posição frontal relativamente à área do jogo. Agora já estava a reconhecer a mulher da touca branca. Era a mesma enfermeira, Cândida, que me tinha ajudado a recuperar de uma luxação gleno-umeral traumática.
Terminado o jogo, ao passar junto delas, apercebi-me que a enfermeira também me reconhecera:
-Bom dia! Como está?
-Tudo bem, obrigado!
Neste momento inclinei-me ligeiramente para a jovem na cadeira de rodas e cumprimentei-a. A enfermeira Cândida fez as apresentações da praxe «Dr. Veríssimo, ilustre advogado, eh,eh,eh!» «Drª Teresa, antropóloga, doutoranda».
Estendi a mão para dar um passou bem à Drª Teresa, mas ela nem se mexeu. Olhou-me com uns olhos brilhantes e afáveis.
-Não se preocupe, disse eu, eu compreendo, não tinha reparado.
-A Drª Teresa vai permitir que lhe fale neste assunto: está assim porque foi vítima de um crime grave.
-Como? –perguntei. A enfermeira Cândida olhou para obter aprovação da Drª Teresa para continuar.
- Quando ela estava a dormir, o marido atirou-a do terceiro andar para a rua.
Fiquei estarrecido. Olhei para Teresa, mas ela desviara o olhar para algum lugar estranho que a fez empalidecer e semicerrar os olhos de dor.
- Continua a praticar ténis? – prosseguiu a enfermeira, para desanuviar.
- Ah, sim! Agora menos. Só para manutenção.
Pousei a minha mão na de Teresa, que não esboçou nenhuma reacção.
- Tive muito gosto em conhecê-la. Lamento profundamente o sucedido. Gostava de ajudar, se puder!
- Depois entro em contacto com a enfermeira Cândida. Ainda tem o mesmo número?
- Sim, sim, é o mesmo. Tudo igual.
-Até logo.
-Até logo Dr., prazer em vê-lo.
-Obrigado, igualmente.