Poemas : 

Obscuridade

 


Hoje revolvi-me de novo no lodo ciúme amante, torpe, lúgubre dos meus desejos por satisfazer, na ânsia de encontrar a pele lavada, os pecados perdoados, os pensamentos atenuados, pela satisfação do desejo. Insano-me por dentro, nem sei o que penso mais, nem o que sinto, não são loucos os meus dedos por procurarem prazeres nos teus, nem cansados os meus olhos nas matas abandonadas, sujeitas na sujidade, caminhos presos pelas florestas, corvos contadores de histórias abruptas, fechadas nas caves molhadas, trespassadas por madeiras podres, folhagem desperta a cada toque, vãos de escada onde se contam segredos.
Hoje apetece-me ser monstro dos abismos, calado, silencioso, armado de escudos doentes e trazido pelas larvas nas colmeias e nos formigueiros, acossado pelos vândalos dos estreitos caminhos sem saída, corredor veloz, açaime de cabedal, corrente amena, penetrada nos sentidos.
Hoje vou dormir assim, uma noite velada, entremeada pelo amor que farei comigo, fechada na varanda por causa dos vendavais, recolhido das chuvas tristes, que me enlevam na amargura.
Hoje, vou ser chacal terno lento manso, apenas me chamarei quando a noite acabar. Me chamarei obscuro, pela obscuridade que me criou.

 
Autor
jomasipe
Autor
 
Texto
Data
Leituras
858
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 24/10/2009 22:54  Atualizado: 24/10/2009 22:54
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10799
 Re: Obscuridade
Dilacera-se no peito esta amargura
Condensa-se a dor humana no anseio,
na prece e agrura.
Lindo o teu texto poético.

abraço
rosa