Hoje revolvi-me de novo no lodo ciúme amante, torpe, lúgubre dos meus desejos por satisfazer, na ânsia de encontrar a pele lavada, os pecados perdoados, os pensamentos atenuados, pela satisfação do desejo. Insano-me por dentro, nem sei o que penso mais, nem o que sinto, não são loucos os meus dedos por procurarem prazeres nos teus, nem cansados os meus olhos nas matas abandonadas, sujeitas na sujidade, caminhos presos pelas florestas, corvos contadores de histórias abruptas, fechadas nas caves molhadas, trespassadas por madeiras podres, folhagem desperta a cada toque, vãos de escada onde se contam segredos.
Hoje apetece-me ser monstro dos abismos, calado, silencioso, armado de escudos doentes e trazido pelas larvas nas colmeias e nos formigueiros, acossado pelos vândalos dos estreitos caminhos sem saída, corredor veloz, açaime de cabedal, corrente amena, penetrada nos sentidos.
Hoje vou dormir assim, uma noite velada, entremeada pelo amor que farei comigo, fechada na varanda por causa dos vendavais, recolhido das chuvas tristes, que me enlevam na amargura.
Hoje, vou ser chacal terno lento manso, apenas me chamarei quando a noite acabar. Me chamarei obscuro, pela obscuridade que me criou.