Ao ver dois
lábios beijar,
logo lembro-me pois
estou só, não me vou enganar.
Escrevo, escrevo
sem qualquer fundamento,
a tudo dou relevo
menos a mim em todo o momento.
Desfaço-me em cada palavra
que deito ao vento por aí,
encontro-me em cada quadra
que por todos escrevi.
Escrevi por todos, menos por mim
oiço tantas vozes, que querem falar
mais alto, sem limite, sem fim,
em dou-lhes importância, deixo-as cantar.
Eu não peço nada
apenas que consiga escrever,
a cabeça doí, estou caído na calçada,
mas nesta alçada a justiça me quer.
O chão é areia agora
e não sei como venho,
por ai embora
se peço algo que não tenho.