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Lascívia

 
Lascívia

Calo-me, silencio-me, purifico-me, endeuso-me,
sou arquivo morto, esquecido nas bibliotecas do tempo inerte.
Esquivo, alerta, podre, âmbar, mel e fel, torpe e rápido,
sou cansaço e obscuridade, clara manhã e noite apagada,
indolente, insano, enlouquecido com as primeiras chuvas.
Pela carência cansada, na infantilidade do meu amor,
sou fértil, virgem e estéril no nascimento, dou constantemente à luz.
Sou Filho Oculto do altíssimo, uma dualidade de sentimento,
uma vez louco e doente, outra vez sano e sadio.
Se um uma dor passageira viesse trazer em mim o esquecimento,
derrubaria fronteiras, elevar-me-ia nos céus.
Se uma candura no toque depositada em mim,
despertasse ecos suaves na cadência do meu coração,
se um bater mais lento, me matasse a ansiedade,
seria o encarnado no teu sangue e dormiria com ele.
Desejo um regaço onde ter palavras mansas e orgias entre mil amantes.
Quero-me assim, lascivo, carente de luxúria na minha pele,
mãos no meu corpo, corpos dentro do meu, o meu dentro de outros.
Quero-me assim, despido, sem pudor, preparado para o prazer.

 
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jomasipe
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Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 21/10/2009 16:50  Atualizado: 21/10/2009 16:50
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: Lascívia
Aplausos veementes a um poema incrível, que li de um só fôlego tamanha sua força. Parabéns!


Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 22/10/2009 10:38  Atualizado: 22/10/2009 10:38
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
Localidade:
Mensagens: 3482
 Re: Lascívia
É assim que te encontro nas palavras: despido, sem pudor. E só assim se pode almejar a eternidade...

abraço


Enviado por Tópico
ÔNIX
Publicado: 22/10/2009 18:17  Atualizado: 22/10/2009 18:17
Membro de honra
Usuário desde: 08/09/2009
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2683
 Re: Lascívia
"Sou Filho Oculto do altíssimo, uma dualidade de sentimento,"

Uma dualidade presente em todo o poema, como se de outro que não tu, falasses mas longe...já muito longe


Adorei

Matilde D'ônix