O caminho era longo
Ladeado de pinheiros bravos
Na tarde sombria
A chuva caía
Miudinha
Envolvendo a atmosfera
Em tons nebulosos
O silêncio
Era quebrado
Somente
Pelo leve saltitar
Dos pés descalços
O pensamento
Debruçava-se-lhe
Sobre o que o olhar
Lhe transmitia…
Ergueu um braço
E sorrindo
Alisou o cabelo
Num gesto habitual.
Em direcção contrária à sua
Caminhava um cão
De pêlo farto e limpo
De porte elegante
E austero
O cão fixou nela
O olhar atento
Inclinando ligeiramente
A cabeça
Para o lado direito
Quando se cruzaram
Ela sorriu
E fez menção
De o acariciar
Ele recuou…
Orelhas erguidas
Respiração ofegante
Língua caída
Ao canto da boca.
Um minuto depois
Abanava o farto rabo
Timidamente
Lambeu o focinho
E aproximou-se dela
Consentindo a carícia.
Naquela comunhão de afectos
Os Deuses cativos
Que os observavam
Do alto das copas
Interpretaram a Liberdade
Como sendo
Um substantivo próprio
Próprio dos que a sabem conservar
E respeitar…
Manuela Fonseca