A sede pacífica da minha alma
Há um grito de dor na terra ainda morna, um quebrado amanhecer,
Que se torna breve resquício, ainda acalentado nas aves em círculo.
Deixei-me subir ao Thor, cansado na penumbra, rodeado de fantasmas,
tracei o círculo mágico, protector dos magos assombrosos,
gritei pela magia, soltei-me no lago azul obscuro, negro pelo luar.
Comunguei absinto, em vez de mel, exalei fel, amargo e lúgubre,
dei a minha pele ao corpo que a suplicava,
juntei-me a ele, em prazeres vadios, orvalhos queimados de luxúria.
Se uma chama viesse tocar a alma que me aquece,
se um lampejo luminoso agredisse o meu olhar,
se um toque misto, entre a ternura e o ódio, me pudesses conceder.
Enfatizaria a inexistente infância, aprisionada no claustro incensado,
cansar-me-ia da carne e do sangue que morreram na luta insana,
pedir-te-ia novamente a vida que negaste. Amaria pai e mãe.
Dar-lhes-ia de novo o maná em mim, o desejo puro e inocente,
o melado doce cheiro da minha pele ainda intocável,
saciaria a sede pacífica da minha alma,
tornada imunda pelo esquecimento e pela ausência,
tornada ave listrada, consumida na dependência,
cansada da noite insana, silenciosa, que não me adormece.