Anemia neural
Vende-se conselhos
Que só servem para os outros
Vende-se um espelho
Que reflete as faces de poucos
Aperte o botão
Dispare um tiro
Ganhe um bordão
Para viver, nenhum motivo
Tempo é dinheiro
Mas não o seu tempo perdido
Em cópias de programas estrangeiros
Nesse seu mundo invertido
Façamos show da morte
De crianças inocentes
De tragédias façamos esporte
Do esporte “nacional?” a fé dos nossos crentes
Ainda que mude o programa
Ou mesmo a programação
Não tire os olhos da tela
Nem busque encontrar razão
Receba o nosso mar
Oceano de informações
Permita-nos lhe guiar
E não dê ouvidos aos seus botões
Afinal, para que pensar
Se está pronto e acabado?
Já o colocamos a reprise no ar
Nossos pensamentos enlatados
Parece mais fácil assim viver
Com uma vida sem direção
A família toda em frente à tevê
Buscando a mesma estação
Espíritos congelados
Presos em uma estranha dimensão
Na qual não há verdade nos fatos
Criando um mundo sem redenção
E, se um dia, desligarem o botão
Puxarem o cabo de energia
Conseguirem dizer não
Um dia...
Quem sabe essa apatia
Que, como tubo de TV desligada, esfria
Dê lugar a um grito de liberdade
Colocando no passado essa realidade
Em que uma caixa luminosa nos ensandecia