Tenho tanta coisa para escrever. Tanta coisa. Tanta coisa para contar e inventar e partilhar. Coisas como o que me aconteceu na vida. Memórias reais que marcaram. Memórias irreais que inventei e vivi e vivo todos os dias. Coisas que aconteceram. Podia contar tudo. Historias de onde nasci, por onde passei, o que faço ou gostava de fazer ou o que nunca vou fazer. Embora nunca se deva dizer nunca. Podia contar as cores e os cheiros e sentimentos e tudo o que existe e não existe mas que pode ser contado e se é contado passa a existir. Os sentimentos que já senti e os que não senti, e os que não senti e gostava de nunca os sentir, ou mesmo os que não senti e gostava de um dia me inundar deles. Podia contar historias que aconteceram ou que nunca aconteceram. Historias ou estórias . Ou pesadelos ou sonhos ou contos ou poemas. Ou nada, ou alguma coisa. Ou alguma quase coisa.
Tenho tanta coisa para escrever que nunca escrevi. Coisas que sempre tive ou que nunca tive e tenho agora. Coisas que perdi. Coisas que ainda vou ter. Nada. Tudo. Agora sim. Decidi. Vou começar a escrever. Bem ou mal quero começar a escrever. Escrever por escrever. Porque gosto. Porque quero perder o medo e deixar de sufocar por ter medo de escrever bem. Ou mal. Não interessa. Tenho tanta coisa para escrever. Tanta vida para contar. Pessoas para ser. Viver. Matar. Chorar. Rir. Foder. Morrer...
É isso. Tenho tanta coisa para escrever. Por mim. De mim. De tudo. Ao meu jeito vou começar a escrever. Porque gosto. Porque respiro. Porque escrevo. Tenho tanta coisa para escrever como gritos e sussurros e segredos e risos e choros. Respiro fundo e digo para mim sim, vou começar a escrever, e sabe-me bem e sorriu. Por isso, com tanta coisa que quero escrever, vou começar a escrever. Com tanta coisa que tenho para escrever. Com tanto por onde começar, comecei. E com tanta coisa para escrever comecei a escrever nada.