Ermelo. Nunca lá fui.
Já tinha ouvido falar.
Ermelo é a anedoda do concelho de Mondim.
Digo-o pelo que ouvido falar tinha.
Os Salgueiros são um dos clãs mais antigos e respeitados da região de Mondim de Basto, mesmo Mondim.
Aliás era. Até eu ter-me casado com um dos frutos dessa árvore cheia de geneologia.
Salgueiro não é o nome de família, é um tipo de vegetação frondosa, cuja casca os meninos do infarmed repararam, há algumas décadas, curar os sintomas associados às gripes e constipações: dores de cabeça, febre e mal-estar geral. Chamaram ao composto àcido acetilsalicilico - aas, ou Aspirina ( passo a publicidade).
Entre os tios (da minha esposa) Carlos, Manel, Alfredo e Zé haviam sempre piadolas sobre Ermelo, como qualquer Alfacinha faz sobre Alentejanos, ou os brazucas fazem sober os tugas, simplesmente era assim. Quando eu ouvia aos dez anos de idade anedotas sobre um francês, um alemão e um português, nunca ninguém me explicou que o último era de Ermelo.
Por mais fanfarrões que fossem os tios, perante a conivência do paizinho, sempre fiquei com a ideia que tudo não passava de pura inveja, alicerçada em simples preconceito..
Tantas gerações nascidas, e os infantes e infantas já viviam essa cruz sem pregos: somos ermelos.
Há dentro de mim, nos momentos menos próprios, ou seja, quase todos, uma necessidade absurda de pôr panos quentes em corpos flagelados.
Já questionei o patriarca Salgueiro se todo este escárnio ficava bem em tão respeitosa família. Com o olhar bondoso e cansado respondia-me sem me dar uma única palavra.
Aqui basto eu! Disse algum dia um só transmontano, enquanto era atacado por um pelotão de soldados dos de Castela, nas terras de Vila Real. O resto da população (velhos, mulheres e crianças) fugia como podia da chacina. Esse homem só de cajado, raiva e loucura na mão, despachou-os de dentes cerrados e salvou assim a família e foi agraciado pelo futuro Rei de Portugal com terras dali, as Terras de Basto: Celorico, Mondim, Cabeceiras...
História? Lenda? Pensava com os meus neurónios, enquanto acabava de ouvir a origem do nome da terra, ao tio Alfredo enquanto este extrapolava um pouco, com política pura e dura do MRPP...
Antes da primeira cerveja, e após a terceira bica (maldita cafeína), dei por mim a pensar em Ermelo, onde todos são malucos antes de nascer.
Tudo isto até ao passado dia 11 de Outubro de 2009.
Domingo em que o chumbo de uma caçadeira atingiu mortalmente, no lobo frontal do cérebro, um homem que foi votar, provavelmente na mulher.
Percebi que afinal o preconceitoso era eu...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.