Dias infernais de um duradouro calor
Diamantes quebradiços por toda a parte
Mágica nova esparramada pelo ar!...
Dormentes apodrecidos pela velha estrada ferroviária
Mato novo se esparramando por entre as frestas do concreto
Pedras porosas enfeando a camada montanhosa
Seres seculares observando a tudo...
Ferro se movimentando aos milhões
No meu horizonte passa um pássaro desconhecido
Um ninho de seda se forma no vértice, na divisa
Do dia e da noite.
No meu céu brilha um astro novo
Cai uma estrela e mais um fruto aleijado
Nas profundezas aquáticas, enquanto seres
Sem olhos procuram por cadáveres indigentes...
Vidros escuros retendo os raios invisíveis
Garras afiadas me matam em meus sonhos
Igual uma Fênix renasço com as forças redobradas.
Cheiro acre ano ar...
Mulheres nuas pelas avenidas solitárias.
Riqueza sem precedentes guardadas nos genes
Estátuas maravilhosas feitas de pedra-sabão...
Facas afiadas furam mundos inteiros
Virgens imaculadas sobrevoam sobre nossas cabeças
Sangue rubro corre pelos cantos periféricos
Vozes roucas vomitam palavras desnecessárias
Os ratos grandes rodeiam a casa triste...
Feias sombras arrastam correntes douradas
Paredes podres deixam à mostra tijolos perecíveis
Úmidas portas que não se abrem nunca
Frias cortinas que não se deixam clarear...
Mortos se retorcem a cada dia
Terra seca e rachada nesse clima tropical
Vento forte soprando lá fora...
Aqui dentro um frio terrível!
Uma dor imperceptível...
Um sorriso camuflado,
Num rosto perdido,
Num tempo indeterminado...
Ao meu lado olho e não vejo mais ninguém
Não me enxergo mais na superfície polida
Um estranho me surge todas as manhãs
Parece não gostar muito de mim...
Parece não gostar de mais ninguém...
Procuro por alguém a muito sumido
Onde se encontram as enormes bochechas?
Onde se encontram os sonhos a pouco sonhados?
Lá no jardim da lua mora uma flor translúcida;
Mora um gato de luvas, um abraço apertado...
Num gesto ocultado...
Na superfície lisa do líquido surge uma cicatriz
Brotou uma orquídea dentro de mim...
No peito adolescente surgiu uma esfera doente...
Numa janela amarelada passou uma vida cor-de-rosa.
Gyl Ferrys