Ah! Solidão, solidão
Mãe de tanta amargura
És a irmã da tristeza
E filha da desventura
És namorada da saudade
E noiva dos amargurados
És esposa das recordações
E amante dos mal amados
És o lenço que na mão
Acena a uma partida
És a lonjura do coração
O sal da lágrima vertida
És mil mortes numa morte
És o soluço reprimido
És a sina da má sorte
És o silêncio vivido
És da alma o reflexo
Na tristeza de um olhar
Um sentimento complexo
Que a muitos faz chorar
Inclemência da clemência
Inconstância da constância
És a loucura da demência
E o vazio da substância
És um Verbo Intranquilo
Que se conjuga sem querer
És no cérebro tudo aquilo
Que nunca deverias ser
És o ser e o não ser
Da imagem que se recorda
És a insónia ao adormecer
A alvorada que nos acorda
És no positivo, a negação
O não e o sim do querer
És o passado em evolução
E o presente do sofrer
És a recusa do sorriso
Que nos lábios, desaparece
És o culto do indeciso
A voz, que o silêncio oferece
És a amarra da vontade
E a âncora da nostalgia
És o navio da infelicidade
Onde se navega noite e dia
Como solidão és clausura
O retiro e o isolamento
És a saudade e a ventura
Transformada em sentimento
Por lonjura, a total ausência
Por morte a ausência geral
Na vida, saudade é paciência
Na morte, a saudade total
És o amor da paciência
És a palavra calada.
No murchar da consciência
És a sobrevivência do nada
Na saudade da lonjura
Feliz, aquele que a tem
Pois numa carta de ternura
A solidão vai e vem
Infeliz é quem não tem
Saudades na solidão
Sinal que não tem ninguém
A quem dar o coração
delgado
Sou desenhador,pintor e poeta e, nas minhas poesias tento desenhar e pintar os meus pensamentos