Contos : 

Espera Pesada

 
Esperava-te eu entre os fios mansos da manhã que se desenhava devagar sobre o caudal do rio, esperava-te encostada à tua falta, fiel companheiras durante estes anos todos, ela e a saudade nunca me deixavam sozinha.
Esperava-te enquanto se principiava o sol no céu e já a sua luz tremia a quietude das àguas sossessagadas, esperava-te numa loucura só minha que nunca compreenderás.
Chamei o teu nome tantas noites e tantas noites não o ouvi, pedi às pedras da calçada que me devolvessem os teus passos mas essas nem sabiam de ti, pedi ao rio calado que cantasse para mim, aquela velha música de pescadores que volta e meia cantavas.
Perdi-te até as falas sempre mudas ou caladas, muito sábias, muito dadas a comentários de gente inteligente.
Oh homem se hoje ainda és gente, depois do tormento que nos deste ao menos um abraço te peço agora. Quando te levaram só deixaram de lembrança o sangue seco na entrada da casa e toda esta agonia, todo este desespero de te saber longe, tão longe que nem os incriveis braços do meu amor te alcançariam.
Hoje espero-te como sempre esperarei, encosto-me ao sobreiro e olho o nascer do sol junto ao rio, espero que venhas com ele a tocar a harpa da manhã que se levanta, espero que venhas com ele, sorriso nos lábios, coração saltando na água límpida do rio, passos mansos como só tu sabias dar... ergo as mãos aos céus e baixo a cabeça, ajoelho-me junto à margem do rio e choro calada todo este amor enclausurado que ainda espera que o venhas receber.

Open in new window


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
Autor
 
Texto
Data
Leituras
835
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.