Ainda consigo ouvir o som das ondas que batiam contra o barco que se arrastava à beira mar. Ainda posso ver, na areia seca, os passos que marcaram a nossa presença, afligida pela ausência que se fazia acompanhar.
Aquele dia está-me gravado na memória... está-me presente na pele.
Escuta-se o som, marcado pelo compasso do silêncio!
Sabes bem que eu e tu éramos diferentes, nunca fomos iguais, mas poderíamos ser parecidos... bastava um esforço maior do que aquele que nunca fizeste, que nunca me deixaste fazer por nós!
Escuta-se o som, marcado pelo compasso do silêncio!
Sempre te falei mais do que aquilo que queria, sempre te disse tudo em gestos que foram mais além do que a própria sabedoria. Para quê? Se nunca te sentaste nas minhas palavras, se nunca as entendestes do modo como sempre te as disse... do modo simples, como sempre te as falei.
Escuta-se o som, marcado pelo compasso do silêncio!
Naquele dia tudo poderia ter sido diferente, poderíamos, pelo menos, ter salvo o amor da amizade... mas não. Ambos arrancámos os sentimentos esgotados pelo esforço banal de algo que nunca começou como se deve começar.
Tu ficaste calado e depois gritaste palavras que eu nunca tinha ouvido, que simplesmente nunca me disseste. Naturalmente, gritaste bem alto o quanto me amavas.
Escuta-se o som, marcado pelo compasso do silêncio!
Foi tão estranho ouvir-te a gritar as entranhas que nunca me deixaste sentir. Foi pena, gritares tarde demais! Os meus ouvidos já não te ouviam. O meu coração já não te falava, quanto mais gritar a teu lado aquilo que tu há muito já tinhas morto dentro dele.
Está certo que as minhas palavras nunca mais estarão aqui à tua espera... emudeceram ao lado do tempo perdido nas horas vãs em que te esperei.
Escuta-se o som, marcado pelo compasso do silêncio!
E agora? Que fazemos agora que a amizade terminou e tudo parece não ter mais volta?
Não sei se adianta pedir desculpas por tudo aquilo que já não sinto. Se adianta pedir perdão por tudo aquilo que senti demais e agora já não sinto. Matei o amor que nasceu em ti com o amor que mataste em mim!
Escuta-se o som, marcado pelo compasso do silêncio!