É sempre uma alegria quando alguem me pergunta se quero ir ou tão simplesmente me diz: " vamos passar o fim de semana à aldeia?"
Que melhor prenda me poderiam dar do que ir deleitar os olhos por aquelas terras e admirar a força da natureza naquele luta invencível de sobrevivência, onde o verde ja brota nos troncos queimados de eucaliptos e os fetos bordam as encostas aqui e acolá?....
A lembrar que o homem existe continua aquele fio de telefone serpenteando as terras , esperando mais dia menos dia, ainda vir a ter os seus momentos de glória e seja de novo elevado aos céus......
Porém o frio é muito e todo o agasalho parece fraco...
Das chaminés da nossa aldeia já não foge aquele fumo branco que nos indica a proximidade da fogueira nem tão pouco se pode sentir o cheiro da lenha queimada......
1 a 0, ou seja, ganham os aquecedores a óleo naquela luta citadina às lareiras e fogões de carvão.
Hoje em dia, entra-se e sai-se da nossa povoação, sem que se veja alguem, sem que pelo menos uma vez apenas se diga bom-dia ou boa tarde, por não nos cruzarmos com vivalma e então.... boa-noite...., bem, boa-noite só mesmo dando aos de casa quando nos deitamos....
Nada se ouve a não ser aqueles cães atentos que presentindo o desconhecido, ladram rasgando o silêncio da noite com seus alertas de perigo......
É bom sentir o cheiro do frio e ter o rosto afagado pelos dedos da geada....fazer bonecos com a nossa respiração, ou desenhar nos vidros das janelas embaciadas coraçõeszinhos de amor....
É bom ao acordar, ser beijada pela brisa gelada de neblina para depois apreciar mais demoradamente teu terno abraço....
É bom "descongelar" os dedos no calor cheiroso do pão quente com manteiga....
Mas o corpo é fraco e nem sempre arrisca.
Por cá nos deixamos ficar, embrulhados em mantas e cachecois, vestindo sobretudos e casacos de pena, fazendo com que velhas tradições de Natais e Passagens de ano caiam no esquecimento e comecem a fazer parte das histórias que à noite contamos aos filhos, outros aos netos como espólio de um passado que ja foi nosso
Contudo as gentes estão lá.
Todavia, entes nossos queridos continuam quais guerreiros do tempo não abandonando seu campo de batalha....
Para todos esses a quem a geada, o frio. o orvalho da manhã deu uma tez bronzeada, sulcada pela vida, a todos eles agradeço pela infância feliz que tive e o sorriso lindo que despontar no meu rosto.
FILINHA