Observo no escuro
A respiração de quem passa,
Por entre as gotas os rostos
De quem se esqueceu de partir.
Imóvel no meu caminho
Escuto os lamentos já vividos,
Temo o gelo que me sente
Neste escuro mais que ardente.
Escuto vozes do outro mundo,
Vozes, sem corpo para me ver.
São os outros, os esquecidos
Que aqui moram, antes do amanhecer.
Vai longa a noite fria
Arde em mim, a morte sozinha,
Caio bem fundo nessas gotas
Onde algo me arrasta, rasga e magoa.