Não mais farei poemas
que deliciem almas insólitas
Não mais farei poemas
que enalteçam terras prometidas
Que mil homens
vingam no desespero
Por serem lançados
ao sabor do vento
Não mais farei poemas
que falem de amor
Não mais as donzelas
sentirão a falsa flor
Que corre como objeto
de desejo em incautas mãos
A propagar-se como o fogo,
depois só restando cinzas...
Não mais farei poemas
que falem de pureza
Não mais sentirão lágrimas
brotarem de tristes fontes
Pois toda fonte pura
que se mistura, se contamina
E destas turvas seivas
não encherei meus cantis.
Agora só farei poemas
da fluida matéria que corra
Não somente em minhas veias,
na tenda, na taberna, na rua...
Existe nos andares bêbados,
nos sorrisos tristes, perdidos,
Na melancolia que o dia traz
e a noite encorpa e chora...
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em novembro de 1975.